domingo, 21 de outubro de 2007

Vai faltar champagne

Kimi Raikkonen campeão do mundo. Fantástico e impensável. Tirou 17 pontos em duas corridas! Hamilton deve ter tomado curso intensivo de como perder um campeonato ganho com Cacá Bueno.

E o gelo protocolar prevalece até quando o protocolo nem mais existe. Vibrou como sempre (não) vibra.

Até hoje de manhã eu imaginava que o finlandês nunca iria passar de vencedor de corridas a vencedor de campeonato. Ou até poderia, mas talvez só no final de carreira, guiando um super carro, como Mansell.

E a detentora dos direitos exclusivos de transmissão parece fazer questão de bater os próprios recordes de babaquice. Como se não bastassem gatos mestres, Ícaro de Paula e outros agrados, roterizaram um formidável cartoon: Rapper Hamilton x Dom Alonso. Eu não via uma palhaçada tão idiota como essa deste 93, quando, após o GP de Mônaco, o Esporte Espetacular vestiu o Ayrton Senna de Super Homem e o fez enfrentar o maléfico vilão francês Alain Prost.

Bem, chega. Apenas um adendo sobre o delicioso vt com imagens inéditas de Interlagos em 77. O que só corrobora minha teoria mundana de que só é babaca quem quer - ou quem realmente leva jeito.




Leonardo Rodrigues

sábado, 20 de outubro de 2007

Cheiro de naftalina

Antes dos sete anos eu já tinha o costume de acompanhar corridas. Mas foi com uma no Brasil que o hábito virou religião: Interlagos ´91. Até àquela altura meu favorito era o Prost e dificilmente trocava o Lego ou o Meu Primeiro Gradiente por automóveis rodando em círculos.

Depois daquilo virei seguidor fiel de Senna e de todos os outros brasileiros. Demorei a tomar juízo.

Apesar da fanfarronice galvônica e da polêmica sobre quantas marchas Ayrton havia realmente perdido, foi uma prova fantástica (memória afetiva rules!). Ele vencia em casa pela primeira vez, a duras penas. Completou exausto, com uma verdadeira pane no sistema nervoso, mal se aguentava em cima do pódio.

Lembro-me de assistir no quarto dos meus pais, onde ficava a única TV da casa - uma Panacolor National modelo 79, a cores, moderna para época. Fiquei o tempo todo sentado sobre a cama áspera, semi-rasgada, de cheiro azedo e sem a colcha que provavelmente estava pendurada no varal. Nem me importei com o resto.



Leonardo Rodrigues

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Faz falta

O GP de Adelaide do último post foi histórico não apenas pelo embate de prender a respiração. Muitos podem não se lembrar mas aquela foi a despedida da Lotus negra, patrocinada pelos cigarros John Player Special e de belíssimos filetes em dourado. Uma parceria vitoriosa que durou uma década e meia e que teve início com Emerson Fittipaldi em 1972. Carros pretos como aqueles nunca haviam existido e, segundo o próprio Emo, a cor era um artifício que ludibriava a noção de profundidade que o piloto da frente tinha ao olhar pelo retrovisor.

Como eram bonitas essas baratas da Lotus.

Uma pena que nos anos seguintes, após amarelar com a Camel e se transformar num varal de marcas sem qualquer identidade, o time tenha entrado numa cruel curva descendente, jogando a toalha no final de 94.

Na foto, os segundos iniciais da prova que marcou a primeira vitória de Ayrton Senna na F1, no molhado Estoril de 85. Na ponta, a dupla da equipe de Colin Chapman: Senna e o ótimo Elio De Angelis. Curiosamente ambos viriam a morrer na pista. O italiano no ano seguinte, já pela Brabham, em testes privados no circuito de Paul Ricard. O brasileiro, claro, todos devem se lembrar.



Leonardo Rodrigues

21 anos

Fórmula 1, semana de Grande Prêmio do Brasil. Dedicarei parcos posts a esse esporte que muitos ainda lançam dúvidas se trata-se mesmo de um esporte. No ensejo da decisão tripla de mundial, volto à última vez em que isso aconteceu.

Adelaide, GP da Austrália de 1986. Nigel Mansell chegava à etapa derradeira com oito pontos sobre o companheiro de equipe de Williams, Nelson Piquet, e sete à frente do então atual número 1 Alain Prost, da Mclaren.

Mansell precisava apenas de um terceiro lugar para ser campeão pela primeira vez. Dada a largada, o Leão, logo ele, adotou uma tocada conservadora como há muito não se via. Só não contava que, na volta 65, fosse "premiado" com o pneu traseiro esquerdo estourado em plena reta oposta. Cena histórica. Adeus a um campenato praticamente ganho e que seria de Piquet caso não amargasse um pit-stop a poucas voltas do fim.

Apesar da superiodade dos carros de Frank Williams no ano, Prost vencia e tornava-se bi-campeão.



Tantas variáveis em uma só corrida é de pasmar quem está acostumado ao comboio aerodinâmico no qual a categoria se transformou.



Leonardo Rodrigues

domingo, 14 de outubro de 2007

Quer pagar quanto?



A impressão que tenho ao ouvir um disco do Radiohead é que estou em contato com a música do futuro, ou de um mundo paralelo. É como explorar o universo apocalíptico que a própria banda criou em 'OK Computer'. Um universo complexo e repleto de texturas que vai de uma alegria inocentemente infantil à profunda melancolia. Quando a banda lançou 'OK Computer', em 1997, a mensagem era de um fim catastrófico; em vez disso o que houve foi um grande (re)começo. 'Kid A', 'Amnesiac' e 'Hail to the thief' apontaram um caminho alternativo para a música. Mais do que indicar, o Radiohead explorou essas novas possibilidades criativas. Não que a utilização de elementos eletrônicos no rock fosse uma novidade, mas nunca essa fusão havia ocorrido de forma tão natural e com resultados tão originais. O que o Radiohead conseguiu foi criar uma linguagem musical que traduziu e representou os sentimentos de uma geração com muita informação e pouca formação. Na contramão dos que apenas exaltavam as maravilhas tecnológicas da modernidade, a banda lembrou da angústia que isso pode trazer e de que a solução, se é que ela existe, pode não estar nas 'facilidades' do mundo moderno. Cada geração teve seus representantes (de Led à Nirvana) e quem melhor representa o período pós-internet é o Radiohead.

'In Rainbows', parece continuar a história iniciada em 'Ok Computer'. Uma história que, espero, ainda está longe do fim. Em '15 steps' e 'Bodysnactchers', as duas músicas que abrem o CD (ou arquivo mp3), Phil Selway emula na bateria uma batida eletrônica empolgante que logo se reconhece como Radiohead. 'Nude', que pode ser considerada a 'balada' do disco, mistura a atomosfera de 'Exit music: for a film' e a melodia de 'How to disappear completly' pra criar uma canção que desde já entra pro hall de clássicos da banda. 'Weird fishes/Arpeggi' tem Phil Selway trabalhando mais uma vez com constantes mudanças de tom e de clima. Entra fácil na lista de preferidas. Em 'All I need', uma base de xilofones, um baixo grave, um teclado muito bem colocado e uma bateria e uma guitarra que resolvem gritar no final da música. Em 'Faust Arp' Thom Yorke parece ditar uma profecia com um violoncelo ao fundo, algo parecido com a música 'A Wolf at the door' que fecha 'Hail to the thief'. 'Reckoner' tem quebradas de ritmo com backing vocals e mais Phil Selway emulando batidas eletrônicas. 'House of cards' abre a seqüência final de 'In Rainbows' com Ed O'brien fazendo uma base contida na guitarra enquanto Thom Yorke canta com a voz e a melodia que fazem dele um dos vocalistas mais importantes da atualidade. 'Jigsaw falling into place' reúne na mesma música tudo o que o Radiohead tem de melhor: ritmo (e quebradas de ritmo), melodia e a criação de uma atmosfera única. A melhor faixa do CD. O encerramento fica por conta de 'Videotape' com apenas um teclado e Thom Yorke. Mais instrumetal e menos eletrônico, embora a sonoridade continue moderna, o Radiohead mantém o nível de sua discografia praticamente irretocável e se consolida como a banda mais importante da atualidade.

A espera de 4 anos pelo novo disco acabou com o anúncio da banda, em seu site oficial, de que o trabalho estava finalizado e de que ele seria disponibilizado para download no próprio site oficial. O preço? O valor que você quiser pagar (!). Basta cadastrar o email no site para receber o link de acesso. Sem gravadoras sanguessugas pra intermediar o processo. A modernidade também traz coisas boas, afinal.

www.radiohead.com


Pedro Grossi