quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Capitu


Diz Affonso Romano de Sant'Anna sobre Luiz Fernando Carvalho:"Ele consegue levar para a tela uma das coisas mais imponderáveis da narrativa: o maravilhoso."
Dizer mais o que?

Pedro Grossi

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Bandeirantes, o canal do....



Cléo Brandão + Ecstasy = hum...


Leonardo Rodrigues

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Por que futebol?


Vinte e dois e uma bola. É quase ultrajante de tão simples. E quase quântico de tão complexo. A alegoria, sublimação, da guerra. Não do bem contra o mau, mas do bem e do mau contra a mediocridade da vida, dos nós de gravata dados a contragosto, do engarrafamento nosso de cada dia, das risadas enlatadas e dos choros entubados. Do sentimento programado e da emoção corporativa. O momento de êxtase, uma visita às origens do instinto, da racionalidade zero e da paixão em estado de arte. O yin-yang das massas.

Amigos forjados pelas cores da camisa e não pela justeza do caráter ou nobreza das idéias comuns assistem à batalha campal. Pouco podem fazer se não entregar sua alma àquele ideal. E elevá-la aos céus ou rebaixá-la às profundezas em questão de segundos. Em qualquer caso, no entanto, já se fez o bem de tirar o espírito da fria zona cinzenta da rotina. Condicionar sua felicidade à imprevisibilidade do jogo. Não a felicidade de verdade, mas a subfelicidade, equivalente sentimental do subconsciente. A felicidade instintiva e irracional de ver vinte e dois e uma bola e as possibilidades infinitas que essa premissa traz.

Se fosse uma música seria Jazz e se fosse arte seria Teatro. Porque é escrito ali, diante dos olhos, com enredos intrincados ou diretos, com os fracos ganhando dos fortes, os fortes ganhando dos fracos, sem politicamente corretismos, sem didatismos, sem logicismos. É onde, ainda que por um breve lampejo, se vê a vida acontecer.

Por isso, futebol.


Pedro Bial... ops, Grossi

domingo, 2 de novembro de 2008

História feita

Vejo Fórmula 1 desde quando Bush pai e Saddam eram amigos. E confesso, nunca vi nada como hoje. Nada. Nunca vi uma decisão dessas. Nunca me senti tão inconfortável nem demorei tanto para digerir um resultado.

Parece mais que os demônios da F1 fizeram questão de roteirizar o tipicamente irroteirizável.

Após um belo (é gosto dizer) campeonato, criaram um script de drama complexo, capiciosamente emocionante, e que envolveu, além dos protagonistas de praxe, uma gama de improváveis personagens.

Na prova, quando o previsível se acomodou, a exemplo da Bélgica, a garoa paulistana - tipicamente "chuva" nos domínios de Interlagos - caiu no momento mais crucial que poderia, bem nos giros finais.

No segundo aguaceiro da tarde, um Hamilton quase irreconhecível deixava escapar entre os dedos, no embate com Vettel, um título mais uma vez sacramentado. Incrível.

Ao fechar em quarto, o mancebo alemão, espetacular, foi de novo brilhante, pela última vez a bordo de sua Toro Rosso (uma ex-Minardi, frise-se). Deixou o inglês no encalço, ensadecido na última volta. Nunca vibrei tanto com uma ultrapassagem.

O outro tudesco, Glock, calçado para o seco, pouco tinha a fazer a não ser ceder ao ataque da dupla. Mas tinha que ser na última curva? Custava tracionar e dobrar o Café? Apenas isso, deixando o entrevero para um já inútil S do Senna?

Lewis levou e Massa ganhou, pela segunda vez no Brasil (igualando a trinca de campeões do País) e pela primeira, de fato, no molhado. Foi exemplar, correu com gana de campeão. Deu dó a chegada aos boxes. Mais dele do que da festa antecipada do QG familiar.

E é justamente essa perplexidade ante ao imponderável que faz dessa brincadeira tão especial e apaixonante. Só quem conhece sabe.

Passada a frustação de início, sinto-me privilegiado por ter assistido a mais um ano de treinos e corridas. Espero alimentar o vício por muito mais tempo. De preferência, até bem depois de Obama e Osama relevarem consoantes e apertarem as mãos.

Que 2009 chegue amanhã.


Leonardo Rodrigues

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Salve demo-cracia


Oh, dúvida cruel que deprava a alma: em quem votar? No galhofeiro ou no enxadrista?


Leonardo Rodrigues

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

The Last Shadow Puppets - The Age of the Understatement (2008)

1 - The Age Of The Understatement
2 - Standing Next To Me
3 - Calm Like You
4 - Separate And Ever Deadly
5 - The Chamber
6 - Only The Truth
7 - My Mistakes Were Made For You
8 - Black Plant
9 - I Don't Like You Anymore
10 - In My Room
11 - Meeting Place
12 - The Time Has Come Again

Download

Eles escutaram muito Burt Bacharach, Hollies e Scott Walker – e ignoraram de forma sumária as rebarbas do Arctic Monkeys (grupo titular do líder Alex Turner).

Bingo!


Leonardo Rodrigues

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Johnny Mathis - Open Fire, Two Guitars (1959)

1. Open Fire
2. Bye Bye Blackbird
3. In The Still Of The Night
4. Embraceable You
5. I'll Be Seeing You
6. Tenderly
7. When I Fall In Love
8. I Concentrate On You
9. Please Be Kind
10 - You'll Never Know
11 - I'm Just A Boy In Love
12 - My Funny Valentine


Relutei em colocar este álbum por aqui. Por ele já ter sido descrito no blog do Ruy Goiaba, por já ter passado a fase de ouvi-lo diariamente, de fio a pavio, ou por já ter aconselhado a alguns nobres pachecos.

O que importa é que isso não o redime de ser um dos discos mais belos de jazz vocal que já tive o comprazer de ouvir. Por sulcos de vinil, escuto Johnny Mathis desde o tempo das calças curtas (hoje?). Ele e Tony Bennett, Andy Williams, Frank Laine, entre outros crooners campeões dos bailes de terceira idade.

Como é bom redescobrir certas coisas.



Leonardo Rodrigues

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Fábula da vida real



Se não fazem parte de uma trilogia, “Cidade de Deus”, “O jardineiro fiel” e “Ensaio sobre a cegueira” têm muito em comum. Todos tratam do holocausto humano. Da absoluta degradação moral e física causada por uma situação social extrema; seja uma África desamparada, uma comunidade dominada pelo tráfico ou uma cidade em que as pessoas perdem a visão. Se nos dois primeiros casos as histórias eram baseadas em fatos reais, em ‘Cegueira’ a narrativa funciona como uma alegoria para os primeiros enredos. A metáfora da cegueira, ou da invisibilidade social, justifica as atrocidades descritas tanto em ‘Cidade de Deus’ quanto em ‘O Jardineiro Fiel’. A incômoda temática é a mesma.

Nesses três filmes do Meirelles (não vi seus outros dois trabalhos, Domésticas e Menino Maluquinho 2) a tese é a de que, sob condições adversas, o homem se transforma em sua principal ameaça, mais do que zumbis, extra-terrestres ou plantas que liberam toxinas - é verdade que em ‘O jardineiro fiel’ ricos laboratórios farmacêuticos também são grandes vilões. O conflito social é mais importante e mais presente do que os personagens em si. Geralmente um personagem – o um que representa o todo – carrega a narrativa sob o próprio ponto de vista, moldando e remodelando os conceitos de ética e moral a partir das situações extremadas a que é submetido. Em ‘Ensaio sobre a cegueira’, Juliane Moore faz a mulher do médico. Apesar de conduzir a história, ela não tem nome, é o humano universal. No filme, ela é a única a enxergar em um sanatório para onde são jogados todos aqueles que inexplicavelmente perderam a visão. O ‘super-poder’ lhe confere também o fardo de tentar estabelecer alguma ordem e alguma justiça em um ambiente cada vez mais hostil e caótico. Ela mata, vinga a traição cometida pelo marido, se desespera e perdoa. Em alguns momentos age como um animal protegendo a comida e o abrigo do seu pequeno grupo, em outros age com a sensibilidade e carinho típicos da humanidade em seus bons momentos.

A proposta do Saramago casa perfeitamente com a linha adotada pelo cinema do Fernando Meirelles. É uma profunda e aterradora crítica social, mas sem saídas fáceis. A culpa não é do Estado, nem da Polícia, nem da Família, nem da Igreja, nem do Tráfico, nem dos Maconheiros playboys, nem da Mídia. Os dilemas levantados são difíceis de resolver. Como a história é universal, ela tem também um pouco de nós, do nosso egoísmo, da nossa ganância, da nossa cegueira. Por isso o filme é indigesto. É uma fábula da vida real.

O tom quase documental dos seus outros dois membros da ‘trilogia’ está um pouco ausente nesse trabalho, mas não o realismo. Os computadores têm fios aparentes e as mesas de madeira encerada têm lascas de compensado faltando nas quinas. As faixas de pedestre são gastas e os consultórios médicos têm banquinhos de madeira nas salas de espera. A trilha do fundador do Uakti, Marco Antônio Guimarães, é mais perturbadora do que envolvente, mais incômoda do que aconchegante. A fotografia do César Charlone vai do café ao leite, como na cena de sexo de Alice Braga com o Mark Rufallo. A estética de Fernando Meirelles não é da harmonia, mas do caos. Em vez do tom solene e de espaços amplos e bem dispostos, barulho, paredes sujas, claustrofobia... São Paulo.




Pedro Grossi

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Depois da tempestade...


Estou agora ouvindo pela enésima vez o “Death Magnetic”. Todas aquelas sensações voltaram: O sonho de ter uma banda; a vontade quase incontrolável de disparar socos e pontapés em tudo que está próximo; deixar o cabelo crescer e andar com roupas rasgadas, porque nada é mais importante que a música. Na atual aridez do mercado fonográfico, salpicada por pequenos Oásis (com o perdão do trocadilho) de criatividade como Radiohead e Arcade Fire, o disco do Metallica é um alento. O inferno astral parece ter ficado pra traz. O fundo do poço (Some Kind of Monster, que só tem algum valor documental, e o inaudível St. Anger) ensinou que quanto mais uma banda se envolve nos melindres do show business, dando vez a picuinhas e estrelismos, mais ela se afasta da essência da música.

Rick Rubin, responsável direto pelo auge criativo de bandas como Red Hot Chilli Peppers, Slayer e Aerosmith, parece ter devolvido ao Metallica a alegria de viver. A banda não precisava de terapia, precisava apenas sacar que no grande teatro da vida o papel deles é fazer a trilha sonora das cenas de destruição, êxtase e fúria, deixando o drama para os que superestimam o próprio talento.

Buscando inspiração no estilo que ele mesmo ajudou a criar, o Metallica voltou mais rápido e envolvente do que nunca. Ao contrário de bandas que insistem em viver do passado, o Metallica não se auto-parodiou, mas se auto-afirmou. Perceberam que evoluir não é se render ao new metal ou ao estilinho da moda. Evoluir é expandir as fronteiras do próprio universo, como fazem o já citado Radiohead e até mesmo o Iron Maiden. Abraçando com intensidade a causa de resgatar o grupo das trevas, James Hetfield & Cia disparam clássicos instantâneos, como “The end of the line” e “My Apocalype”. Músicas longas e um instrumental matador, com solos (que saudade!) e quebras de ritmo, que nos fazem voltar no tempo. Rock runs out and nothing else mathers.

Pedro Grossi

sábado, 30 de agosto de 2008

6 parcerias

Jimi Hendrix + Stevie Wonder - I Was Made To Love Her

Hendrix sabia muito bem o que e com quem tocar. Solerte escolha o convite à sensação teen da época para uma jam session nos domínios da BBC. E de quebra, ainda coverizar um dos hits do moleque, já prodigioso também na bateria.




Eric Burdon + War - Paint It Black


O ex-animal foi o grande incentivador do coletivo de ascendência latina que declarou guerra à mediocridade estilística. “Spill The Wine” foi a trademark do arranjo. Mas é difícil subestimar o medley de “Paint It Black”, dos Stones, que abre e enxerta o segundo álbum da banda.




Thelonious Monk + John Coltrane - Epistrophy


Durante seis meses de 1957 eles empreenderam um duo de fina sintonia. Tudo, ou quase, está devidamente desovado em “The Complete 1957 Riverside Recordings”. “Epistrophy”, ouvida por muitos como DNA do jazz moderno, conta aqui, ainda, com as presenças indeléveis de Art Blakey e Coleman Hawkins, ao sax tenor.




Vinícius de Moraes + Baden Powell – Tempo de Amor


Com “Afro-sambas”, a produção popular brasileira ganhou em sincretismo e em atabaques, bongôs, afoxés, agogôs e candomblé. Nunca o Rio esteve tão perto da Bahia. Diplomaticamente. Sob a benção do samba e dos orixás.




Marvin Gaye + Tammi Terrell - Something Stupid


A parceria de sempre numa performance nem sempre resgatada. A referência a Sinatra está no primeiro disco da dupla (“United”, de 67) que se desfez com a morte trágica da moça, vitimada pelo câncer aos 24 anos.




Bob Dylan + Johnny Cash - Girl From The North Country


Bob e Cash uniram vozes em momento oportuno. No mergulho do primeiro à tradição caipiresca do Tennessee. Vizinhos de estúdio em 69, travaram uma série de duetos que nunca vieram à luz. Melhor destino teve “Girl From The North Country”, em sua versão definitiva.





Leonardo Rodrigues

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Política esportiva?


Acabaram as Olimpíadas. O ramerrão ufanista e patriótico agora dá lugar a discursos engajados com soluções revolucionárias para sanar a tal falta de política esportiva no Brasil e transformar o país em uma potência olímpica. Nosso complexo de vira-lata não admite que fiquemos atrás da marofada Jamaica ou que disputemos palmo a palmo posições no ranking com países como Etiópia e Geórgia. O detalhe é que terminamos a frente da Finlândia, da Noruega e da Dinamarca. Será mesmo que a qualidade de um país se mede pelo número de medalhas de ouro? Basta ver como a campeã China trata seu povo.

Claro que foi frustrante ver o futebol feminino perder sua segunda final olímpica para os EUA e foi de marejar os olhos a volta por cima da Mari e do José Roberto Guimarães. Mas a disputa olímpica não pode ser superestimada; é apenas um jogo. Emocionante, envolvente, bonito, mas um jogo. Em nome dele, não podemos fechar os olhos para o que a China faz com o Tibet há décadas, nem mobilizar uma força-tarefa para colocar o Brasil na rota das medalhas. Há questões mais urgentes, que não podem ser ofuscadas pelo brilho reluzente do ouro nem pela sincronia lampejante dos fogos de artifício.

O que falta no Brasil não é política esportiva, mas política assertiva. Aquela que de fato trabalhe para o interesse público e não na busca por ministérios e cargos de presidência em estatais. A função do esporte não é política, mas social. Não precisamos de uma fabriqueta de campeões para massagear nosso maltratado ego a cada 4 anos. Precisamos é dar uma alternativa àqueles que vêem no crime ou no tráfico a saída que o Estado não oferece. Esporte nas escolas, campeonatos nas comunidades e voilà! Indiretamente acabaremos formando os tais campeões olímpicos. Não há necessidade de gastar verbas públicas para treinar superatletas (papel que deve ser desempenhado pelos clubes com apoio da iniciativa privada); o dinheiro tem de ser usado para formar cidadãos.

As eventuais Olimpíadas no Rio em 2016 vão ser o auge da politicagem esportiva. Obras superfaturadas vão encantar os turistas enquanto o exército fecha temporariamente os morros e higieniza a cidade. O carnavalesco do momento vai fazer uma deslumbrante cerimônia de abertura, que vai concentrar os olhares do mundo. Enquanto isso, a China, o morro do Cruzeiro e a Geórgia, darão fins menos nobres aos ‘fogos de artifício’.



Pedro Grossi

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Quando?

Quando vão perceber que Dunga não é técnico?

Quando vão perceber que o sumiço da vara não roubou o pódio?

Quando vão perceber que Grã-Bretanha não é Reino Unido?

Quando os EUA vão perceber que contam as medalhas errado?

Quando vão perceber que o Diego Hypolito não tem que pedir desculpas a ninguém a não ser ele mesmo?

Quando vão perceber que as pegadas da cerimônia de abertura eram computação gráfica?

Quando vão perceber que o Bolt só não baixa ainda mais suas marcas porque não quer?

Quando vão perceber a canoa furada que o Scheidt embarcou ao mudar de classe?

Quando vão perceber que o Cubo D'Água precisava de enguias, cobras e tubarões para deter a avalanche de quebras de recordes mundiais?

Quando vão perceber que o Phelps é um X-Men argentino?

Quando vão perceber que o complexo de Tom Hanks ("Quero ser Grande") só atrapalha a (não) política esportiva brasileira?

Quando vão perceber que o Tibet ainda existe?

Quando vão perceber que Cuba e Rússia já não são mais Cuba e Rússia?

Quando vão perceber que ninguém sabe nada a respeito da maioria da delegação brasileira?

Quando vão perceber que Hope Solo e Leryn Franco estão no "esporte" errado?

Quando vão perceber que os maratonistas deveriam correr munidos de galões de oxigênio?

Quando vão perceber que Copa do Mundo é muito mais legal que Jogos Olímpicos?

Quando vão perceber que o ouro do Cielo é dele e somente dele?

Quando vão perceber que as Olimpíadas no Brasil só farão do Brasil mais paraíso da maracutaia?



Leonardo Rodrigues

segunda-feira, 11 de agosto de 2008

O Chef morreu

Ontem o mundo ficou mais agudo, frígido e branquelo.

R.I.P.
20/08/1942 – 10/08/2008


Leonardo Rodrigues

domingo, 27 de julho de 2008

Audiorama + SOMTRÊS

Simplesmente sensacional este site. Além de um catálogo super completo de marcas de aparelhos vintage, traz uma seção com as capas dos 10 anos da extinta e saudosa “SOMTRÊS”. Revista criada e editada por Maurício Kubrusly (o próprio).

O misterioso disco compacto de 1979, o ultra-futurístico vídeo-disco, os mini-hacks, o som nos carros, a praga dos “3 em 1”, a revolução do vídeo, a febre dos games e do walkman, a chegada do videotexto (a saber). Parafernálias sortidas e inimagináveis. Sem contar coisas até bem atuais, o rescaldo cultural do Rock in Rio 1 e os ecos das “Diretas Já”.

Tudo lá, com uma excitação ingênua que só o tempo é capaz de deixar ainda mais saborosa.

Faz lembrar como deve ter sido legal quando você precisava montar o próprio som, na era dos modulares – ‘megalomania’ que é a cara dos anos 70.

Atualmente, com o advento mp3 e os mini systems, que invariavelmente tomam um pau de qualquer antigo somzão, parece que ninguém mais liga para isso.

Quem hoje compraria a “SOMTRÊS”?

Sinto-me um verdadeiro E.T. esquadrinhando sites e casas de usados para tentar montar o meu primeiro. A edição número 2 seria uma mão na roda.

Algumas chamadas de capa são hilárias, como “O que Elvis Presley achou do Rock in Rio”, “O avanço do cassete de áudio digital apavora todo o mundo”, "Exclusivo: esta revista não contém nenhum balanço da década”, “Rolling Stones xingam os Beatles”.

E ainda consegue ser impressionante a variação de preço a cada edição.

Descontado o senso estético ímpar da época, algumas capas são até bem legais. Mas nada redime a primeira delas, trazendo a “volúpia” (bota aspas) de Zezé Motta (Glória Maria?). Em papel laminado, de brinde, de oncinha.

O som, por obséquio.


Leonardo Rodrigues

segunda-feira, 21 de julho de 2008

1001 Discos Para Ouvir Antes de Morrer


Finalmente tenho em mãos esta bíblia/guia/enciclopédia/tijolo. Compilação encabeçada por Robert Dimery e Michael Lydon (co-fundador da Rolling Stone) que traz, além de belas imagens, uma penca de resenhas assinadas por críticos internacionais. Quase todas muito boas. Respeitando ordem cronológica, numa espécie de raio-X da história da indústria do disco.

Omissões e inclusões indecorosas à parte - naturais mesmo a algo tão extenso -, a lista é bem sensata. E é só uma lista de discos, pois.

Por um lado, a atenuante constatação de que boa parte deles não de hoje integram minha liturgia musical. De outro, a inevitável sensação de pequeneza frente a capas e nomes nunca dantes vistos mais rechonchudos.

Mas o melhor é a contribuição da força-tarefa solitária deste abnegado. Com links do MediaFire! Não há como não favoritar.


Leonardo Rodrigues

domingo, 20 de julho de 2008

The Dark Knight


Um vilão psicótico. Uma bela mulher envolvida em um triângulo amoroso com o herói, de bela estampa e ironia refinada. Uma cidade dominada pelo crime e pela corrupção e uma população que, quando reunida, parece tremendamente estúpida. Essa poderia ser a descrição de um sem número de histórias e filmes de ação. Felizmente, The Dark Knight – que tem todos esses elementos – vai muito, mas muito além disso. O filme pega todos esses ingredientes e transforma em cinema da melhor qualidade.

Christopher Nolan dá à história uma aura de realidade. Sem ser histriônico impõe um tom de urgência em todas as cenas. Ficam claras as motivações de cada personagem. Mais do que lutar por uma causa maior, todos eles têm convicções pessoais e fazem escolhas. Têm vida própria. Não são reféns do roteiro. Por isso, tudo flui naturalmente. Por isso, não soa absurdo um homem vestido de morcego voando pela cidade. Por isso, mesmo conhecendo de cor e salteado os plots da trama, não sabemos para onde estamos sendo levados. Por isso, de bom grado, nos deixamos conduzir.

O Coringa criado por Heath Ledger não é um simples vilão. Em vez de ser a antítese do Batman é, muitas vezes, seu complemento. Não quer dominar o mundo ou ficar bilionário. Apenas se sente desafiado pela onipresença poderosa do ‘cavaleiro das trevas’. Dá à cidade o criminoso que ela merece. “É apenas uma cachorro correndo atrás de um carro. Alguém que quer ver o circo pegar fogo. Um agente do caos”. Está sempre um passo a frente, porque talvez compreenda como é previsível o comportamento humano. Sua presença em cena é incômoda e ameaçadora principalmente porque não se sabe exatamente o que ele busca, ao contrário do que diz o Batman em determinado momento do filme: ‘É fácil enfrentar os criminosos. É só saber o que eles querem’. Entre os dois há uma guerra de pontos de vista. Um está disposto a provar que a ‘loucura é como a gravidade: basta um empurrãozinho’ enquanto o outro acredita que apesar de idiota e mesquinha a humanidade pode ser imprevisível e dar mostras de grandeza. Coringa ‘perde’ a disputa exatamente por acreditar demais na previsibilidade, por desconsiderar que em meio a aridez e boçalidade pode surgir o singular, o imprevisível, o surpreendente. Lição que Christopher Nolan demonstra ter aprendido.

O filme foge do maquineísmo do bem contra o mal. Também escapa de se concentrar na dor psicológica que os heróis enfrentam por causa dos (super) poderes. Não cai na armadilha de abusar da pirotecnia dos efeitos especiais nem tenta contar uma história hermética e ‘cabeçuda’. Ele fica no ponto de equilíbrio de tudo isso. Acha uma personalidade própria em meio aos clichês do gênero. Agrada a gregos, troianos, romanos, espartanos... A quem vai atrás de entretenimento, só pra estimular algumas partes do cérebro e liberar hormônios, e a quem busca arte, para os quais o filme ainda reverbera na cabeça por dias a fio. Em uma palavra: definitivo.



Pedro Grossi

segunda-feira, 14 de julho de 2008

6 músicas para dias frios

Sorry Mr. Hornby.


1. King Crimson - Mate Kudasai

À exceção das “épicas”, o King Crimson nunca se deu lá muito bem com baladas. À base de dedilhados, slides e do Chapman stick de Tony Levin, "Matte Kudasai" rompe o dito. Dos pontos altos de Discipline, álbum que inicia a fase oitentista e não menos excelente da banda.



2. Scott Walker – It's Raining Today

Ele preteriu frenesis ao anonimato, fórmulas pré-concebidas à liberdade artística. Pagou caro por isso e, ainda assim, saiu-se consideravelmente bem. Influenciou de David Bowie a Beck e Radiohead, and keep going, raining and freezing.



3. Roberta Flack - Hey, That's No Way to Say Goodbye

De férias no Rio, em uma das freqüentes visitas ao ótimo sebo Baratos da Ribeiro, pesquei a jóia, o LP de estréia de Roberta Flack. Acompanhada de gente como Ron Carter e Bucky Pizzarelli. Aqui, recriando Leonard Cohen, chiada e lindamente.



4. Keith Jarrett - Part II C

Não faço muita idéia do que faz de uma música ideal para dias de baixas temperaturas, ou algo que o valha. De qualquer sorte, imagino. O último ato de Keith Jarrett em “The Köln Concert” me fornece bons indícios.



5. Piano Nocturne in Ebm

Nada mais enregelado que um noturno de inverno. Nada mais noturno que a obra de Frédéric Chopin.



6. The Dave Brubeck Quartet - Strange Meadow Lark

Tarefa ingrata compor o ínterim entre “Blue Rondo A La Turk” e “Take Five”. No entanto, esta é a minha faixa preferida de um disco simplesmente perfeito. E de certo não estou só.




Leonardo Rodrigues

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Woody Allen

E se a vida fosse assim?



Por sinal (digital), ela já não é?


Leonardo Rodrigues

Wall E


Numa das primeiras aulas que tive no curso de jornalismo, lembro do meu professor de teatro, depois de horas discorrendo sobre a peça Romeu e Julieta, dizer que a obra era sobre o amor. Pensei: Duas horas de explicação pra depois você resumir tudo em uma palavra?
Meu raciocínio na época era que se toda história tinha uma moral, de uma ou duas frases, bastava dizer o desfecho edificante e jogar fora todo o resto. Eu não pretendia deixar de ler, ver ou ouvir histórias, era apenas um raciocínio hipotético de alguém que estava tentando entender melhor um monte de coisas. Como nunca cheguei a fazer a pergunta ao professor também nunca ouvi a resposta, mas, apesar de continuar sem entender um monte de coisas, já consegui esboçar uma solução pra minha dúvida. O valor das histórias não está em sua moral, mas na sua evolução. No carisma dos personagens e na identificação que criamos com seus medos e angústias. No universo criado e no qual temporariamente mergulhamos. Nos sofrimentos e dramas compartilhados, como se já não os tivéssemos em número bastante. Tudo para sentir o gosto da vitória no final. Para se entregar a um enredo que privilegie os bons e puna os maus. Para fugir da realidade e para encará-la ainda mais de perto. Se algo nisso tudo é dispensável, é a tal da moral. Grosseiramente falando o ensinamento de Wall E é: Preserve a natureza ou acabaremos em uma montanha de lixo. No entanto, para se chegar a essa conclusão nada complicada tem-se um dos melhores filmes de animação de todos os tempos.

A primeira meia hora supreende por dois motivos. Primeiro pela sublime visão pós apocalíptica da Terra. Arranha-céus de lixo compactado e nuvens de poluição são verdadeiras poesias visuais. Méritos para a direção de arte e para a excelente trilha sonora que sempre acerta o tom. A segunda supresa vem pela falta de diálogos. Os personagens falam com o corpo, sobretudo com os olhos. Por algum motivo, o pequeno robô Wall E (Waste Allocation Load Lifter-Earth-Class) foi deixado na Terra, depois que ela se tornou inabitável devido à poluição. Wall E foi projetado para compactar e empilhar lixo, função inútil já que a humanidade vaga sem rumo refugiada em naves espaciais. Ainda assim, ele continua cumprindo fielmente a sua função. Garimpando nas montanhas de entulho objetos que tragam um pouco de vida à sua solitária existência, Wall E constrói um lar. É tocante o seu apego por uma velha fita, que ele toca em um Ipod conectado a um vídeo cassete, do musical "Alô Dolly!", de 1969. Vendo o filme repetidas vezes, ele sonha, assim como fazem os atores do musical, em dançar de mãos dadas com alguém.

Na segunda parte do filme o seu sonho se mostra possível. Uma pequena robô chamada Eve (Extra- Terrestrial Vegetation Evaluator) é trazida à Terra para fazer um levantamento da situação do planeta. Só aí surge o primeiro diálogo do filme. E que diálogo! A cena dos dois robôs se apresentando - um ensinando ao outro a pronúncia correta do próprio nome - é simplesmente sensacional. Wall E mostra a Eve sua casa e o seu filme predileto. De repente "La vie en Rose" da francesa Édith Piaf na voz de Louis Armstrong. (Será que é mesmo um filme infantil?)

Eve volta para o espaço sideral e Wall E vai atrás dela no cruzeiro espacial onde os humanos se refugiam. Enquanto a humanidade se robotiza seguindo caminhos pré-programados como se fossem dados em um chip de computador os robôs se humanizam: sofrem, têm medo, compaixão, alegria, curiosidade.

O filme reúne as formas clássicas dos desenhos da Disney com a agilidade e inventividade das animações da Pixar. O resultado é assombrosamente bom. E que, para o nosso bem e para o bem do cinema, eles continuem se superando.





terça-feira, 8 de julho de 2008

O lugar-comum da violência

É difícil falar em violência sem cair nos clichês: Absurdo! Inaceitável! Barbárie!Mas não há opção. A banalização da violência levou à banalização do discurso. O que dizer do caso da criança de 3 anos que foi executada pela polícia? Meu limitado vocabulário não consegue ir além de absurdo, inaceitável e barbárie. Pra quem tomou a acertada decisão de evitar os noticiários policiais, os quais por obrigação profissional tenho de acompanhar diariamente, segue um resumo do que aconteceu domingo, 06/07, no Rio de Janeiro.

A visão da família: Uma mãe sai de uma festa de aniversário com seus dois filhos por volta das 19h. A poucos metros de casa vê um carro, um Fiat Stilo preto, em alta velocidade passar pela sua rua. Algum tempo depois, uma viatura policial, de portas abertas e com policiais armados com metralhadoras parece perseguir os bandidos. Para não obstruir a ação policial e para se ver o mais longe possível daquela situação a que os cariocas já estão se acostumando a presenciar, a mãe encosta o carro. De repente, barulhos de tiros. Os policiais começam a metralhar seu Pálio weekend cinza chumbo, com duas crianças dentro. Desesperada ela manda que os filhos se abaixem e corre para o frente do veículo tentando proteger a família. Em vão. Dos mais de quinze tiros disparados três atingem João Roberto Amaral, de 3 anos. Um deles na cabeça. Por sorte, nenhum tiro atingiu seu bebê de 8 meses.

A visão dos policiais: Um chamado no rádio avisa que assaltantes estão fugindo em um carro preto. No jogo de polícia e ladrão (está cada vez mais difícil saber quem é quem), policiais militares metralharam um carro quase preto (à noite todos os gatos são pardos) que cometeu o crime de estar na hora errada no lugar errado.

O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame (que, aliás, é cliente da FSB, onde trabalho) disse que os policiais confundiram o Pálio Weekend da advogada Alessandra Amorim Soares com o Fiat Stilo dos bandidos em fuga e que o engano teria causado a tragédia. Não foi tragédia. Foi crime. Sem atenuantes e sem justificativas. Não foi a primeira vez e temo que também não seja a útlima. Há algumas semanas uma criança de 4 anos morreu vítima de bala perdida durante um tiroteio em morros cariocas. Daquela vez, pôde-se argumentar fatalidade já que a bala era ‘perdida’. No caso de domingo, no entanto, as balas foram endereçadas. Era pra matar quem quer que estivesse naquele carro.

De oficiais do exército em atitude de Pilatos que entregam jovens para serem executados por bandidos rivais a crianças baleadas na cabeça e arrastadas pelas ruas presas aos carros vamos nos matando. Da periferia ou da classe média. Mais um João se vai nessa terra de ninguém.


Pedro Grossi

terça-feira, 27 de maio de 2008

Subliminar



Descubra se seu controle mental é maior do que o da maioria das pessoas - ou, na pior das hipóteses, o quão "sanduichônico" é o seu inglês.



Leonardo Rodrigues

terça-feira, 20 de maio de 2008

Gallo é o novo técnico do Atlético MG


A diretoria demonstrou que tem os pés no chão.

E as mãos também.




Pedro Grossi

terça-feira, 6 de maio de 2008

Tempo que não volta mais

Ah, minha época de video-game, tudo era tão mais simples...


Mais sincretimos temporais publiciários aqui.



Leonardo Rodrigues

domingo, 27 de abril de 2008

Que venha o Boca, o meia-boca já foi



Quando sobre o clássico mineiro se discute quem tem a maior torcida ou qual time tem mais tradição, o papo descamba para um polêmica insolúvel. Há números e argumentos para justificar qualquer afirmação, de um lado ou de outro. Só não dá pra concordar quando a torcida do Atlético MG reclama a alcunha de mais apaixonada. O fato de eu não batucar uma panela na janela da minha casa depois de uma vitória do Cruzeiro não me faz menos torcedor, só mais civilizado. O que também me incomoda é tentarem 'vender' o Atlético como um time oprimido e, por isso, mais merecedor das (raras) conquistas. O Cruzeiro, por ter sido mais organizado nos últimos anos, é tratado nas entrelinhas da imprensa como um clube calculista, arrogante e racional que rouba os títulos que deveriam pertencer aos fracos e oprimidos.

A leitura que faço dessa situação é bem diferente: De um lado um time com sucessivas diretorias populistas que tentam transferir a responsabilidade dos seus fracassos ou à gestão anterior e a herança maldita ou à arbitragem. Fizeram a torcida acreditar que ela era especial e há anos vive-se dessa ilusão. A narcisista torcida ainda vai acabar se afogando no lago.

Do lado azul, o que se chama de arrogância é apenas profissionalismo, que ficou mais uma vez comprovado hoje após a histórica vitória de 5 x 0, sem nenhum comentário desreipeitoso dos jogadores ou da comissão técnica do Cruzeiro. Bem diferente do ano passado, quando após a vitória de 4 x 0 do Atlético MG, os inflamados discursos atleticanos pareciam dar fim a uma injustiça histórica.

Aos atelicanos: não é injustiça, é incompetência. Aprendam a parar de transferir responsabilidades e admitam as próprias limitações, como fizemos no ano passado. O osso de galinha que ficou engasgado em 2007, agora desceu redondo. Marcelo Moreno, Wagner, Ramires e Guilherme deixaram o time atleticano, com o perdão do trocadilho, em frangalhos.


Pedro Grossi

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Campeonato mineiro pra quê?

No campeonato mineiro do ano passado, o Democrata GV, então parceiro do Atlético MG, decidiu jogar as duas partidas da semifinal no Mineirão, pelo fato do estádio de Governador Valadares não cumprir os resquisitos exigidos para um jogo decisivo. Na oportunidade achei a decisão indecente, anti-desportiva e absurda.

Um ano depois acontece algo semelhante com o Cruzeiro. O Ituiutaba, por não ter um estádio decente, vem jogar as duas partidas no Mineirão. O que eu acho? Uma atitude indecente, anti-desportiva e absurda. A igualdade de disputa é condição sine qua non para qualquer competição, ou pelo menos deveria ser assim. Como valorizar um campeonato em que um clube faz os dois jogos da semifinal em casa? É no mínimo paradoxal: Tem-se quase dois meses de disputa pra definição das posições das equipes, porque se considera o fato de jogar em casa uma vantagem. Depois, tudo é jogado no lixo e o time grande faz os dois jogos sob seus domínios.

Ah! mas o Ituiutaba como mandante de uma partida no Mineirão terá uma renda recorde, dirão alguns. A esses digo o seguinte: Um clube de futebol, sobretudo do porte do Ituiutaba, não tem ou não deveria ter fins lucrativos; ele existe para representar seu povo e sua torcida. Essa mesma torcida que agora está privada de acompanhar em sua cidade um jogo de semifinal. Jogando as duas partidas em Belo Horizonte o Ituiutaba diminui ainda mais as já mínimas chandes de chegar à decisão e de fazer uma renda ainda maior como finalista do campeonato. Em nenhum momento é levado em consideração o sentimento do torcedor apaixonado ou a honra e a tradição do time que poderia fazer história. Se a Fazendinha não tem condições de receber o jogo, que ele seja feito no Parque do Sabiá onde o torcedor do Ituiutaba ainda poderia acompanhar a partida.

O campeonato existe sob o argumento de que acirra a rivalidade regional e dá aos moradores do interior a chance de ver as 'estrelas' da capital. O desrespeito do Ituiutaba à própria história mostra que eles estão nessa não pela rivalidade e pela competição, mas por uns tostões furados. O Cruzeiro deveria se recusar a disputar a partida, mesmo que isso lhe valesse o título do campeonato. Há tempos, nosso torneio se tornou um circo sem graça e previsível. Em vez de toda essa encenação desnecessária poderíamos reduzir tudo a um clássico, já que todo ano (ou a cada sete anos) a taça só muda de lado na Lagoa da Pampulha.


Pedro Grossi

terça-feira, 8 de abril de 2008

Uns tem um dedo a menos...




... outros um dedo a mais






Pedro Grossi




sexta-feira, 28 de março de 2008

Lula Marques...

..., o cara.
Foto de primeira página da Folha de hoje.
Leonardo Rodrigues

domingo, 23 de março de 2008

Atrético - Na primeira divisão desde 2007

Homenagem do Kibeloco ao 'grorioso'


Pedro Grossi

segunda-feira, 10 de março de 2008

Genuinamente retrô

Para quem já tem certa bagagem, mais cedo ou mais tarde, como em toda e qualquer relação, chega a malfada hora do “vamos dar um tempo”. Anos de estafa e desgaste que dão vazão a reclusões, projetos paralelos, reformulações, mudanças de gravadora e, principalmente, ao desafogo sentimental e à redefinição de concepções. Com os Black Crowes a história não foge desse script, não muito.

O recesso teve início em 2002 e perdurou por cinco anos, os dois últimos dedicados a econômicas apresentações e a dois discos ao vivo no varejo. De volta às gravações no verão do ano passado em Catskill, região montanhosa do estado de Nova Iorque, os corvos agora arrulham livres sob nova formação. Além dos irmãos Robinson, e dos velhos de guerra Sven Pipien e Steve Gorman; Luther Dickinson (ex-North Mississippi Allstars) e Adam Macdougall agora respondem, respectivamente, pelas guitarras-base e teclados de “Warpaint”. E os ares livres de sobras de estúdio e dos males das concentrações de carbono parecem só ter feito bem à banda de Atlanta.

Sem sobressaltos, eles curvam-se ao que de melhor sabem fazer: rock básico embebido até o pescoço de soul e rhythm and blues, quase sem overdubs. Entenda-se, em especial, os três primeiros álbuns, que, por acaso ou não, coincidem com o período de maior sucesso comercial. Os arranjos seguem dominados por guitarras robustas e sibilantes, slides e wha-whas, órgãos, gaitas e instrumentações diversas. As diretrizes de sempre. No entanto, o que lavra a nova investida é um clima mais intimista, de uma tranqüilidade frugal quase inédita. Uma espécie de antídoto de liberdade contra um período atribulado, mas que não é pretexto para digressões dispensáveis.

Pode-se dividir o trabalho em dois blocos distintos. O primeiro, mais “conservador”, divide tocadas mais pesadas com amenidades acústicas estrategicamente interpostas. A saber: o rockão cadenciado de “We Who See the Deep”, o blues rijo de “Evergreen”, “Walk Believer Walk” com seu vigor zeppeliano e, ainda, “Goodbye Daughters of the Revolution”, faixa de abertura, dada a um refrão deliciosamente pop. Entre as baladas, a southern “Oh Josephine”, própria de quem há muito destrincha as discografias de The Band e dos Flying Burrito Brothers, a bela “Locust Street”, que traz bandolins e a influência de Dylan, além da toada-blues “God's Got It”, cover do reverendo Charles Jack - uma das poucas alusões ao gospel da vez.

Já o segundo, concentrado basicamente na parte final, surge num viés mais híbrido e lisérgico. “Movin' On Down the Line”, que joga com psicodelia e a levada característica do grupo, “Wounded Bird”, transitando por um riff no melhor estilo “The Seeker”, do The Who, e “There's Gold in Them Hills”, balada country de melodias de encher os olhos de qualquer fã de Elton John. “Whoa Mule” é o algo mais, que mistura Índia com bluegrass de modo tão natural quanto surpreendente.

Partindo de “Warpaint”, percebe-se que os Crowes já cruzaram a fronteira da mera auto-referência estilística. Estão no caminho certo e seguro do seu “mais do mesmo”. Mas, felizmente, ainda generosos em selecionar e repaginar referências do cancioneiro popular norte-americano (e inglês), não se dando ao ao luxo de abjurar de personalidade. Como se compusessem a trilha ideal de um road movie dirigido pelo “xará” Cameron Crowe. Na dúvida, é sempre uma boa viagem.

The Black Crowes - Warpaint

  1. Goodbye Daughters of the Revolution
  2. Walk Believer Walk
  3. Oh Josephine
  4. Evergreen
  5. We Who See the Deep
  6. Locust Street
  7. Movin' On Down the Line
  8. Wounded Bird
  9. God's Got It
  10. There's Gold in Them Hills
  11. Whoa Mule


Leonardo Rodrigues

sábado, 1 de março de 2008

Odores

Que a Veja é a Veja todo mundo sabe ou deveria. Mas não deixa de ser de bom alvitre checar o dossiê do blog do Luís Nassif. Difícil é sair de lá com o estômago em dia.



Leonardo Rodrigues

Ferrari paraguaia

A notícia já é morna, quase fria. Mas quem é vivo e tem boa memória certamente tem motivos de sobra para suspeitar de ligações excusas entre Jean Todt e a máfia italiana de carcaças paraguaias. E quem, em primeira mão, levou o pato (coelho?) para casa?




Leonardo Rodrigues



Pedro Grossi

domingo, 3 de fevereiro de 2008

The Mars Volta - The Bedlam In Goliath (2008)

Dá para confiar em alguém que, sem peias e na mesma tacada, solta Pink Floyd, Soft Machine, Nick Drake, Siouxie and The Banshees, Circle Jerks e Sugarcubes? Dá. E deveria ser quase obrigação cívica. Segue o novo disco dos desconstrutores do Mars Volta:

The Mars Volta - The Bedlam In Goliath (+Bonus Tracks)


1. Aberinkula
2. Metatron
3. Ilyena
4. Wax Simulacra
5. Goliath
6. Tourniquet Man
7. Cavalettas
8. Agadez
9. Askepios
10. Ouroboros
11. Soothsayer
12. Conjugal Burns
13. Pulled To Bits (Siouxsie And The Banshees Cover)*
14. Back Up Against The Wall (Circle Jerks Cover)*
15. Memories (The Soft Machine Cover)*
16. Things Behind The Sun (Nick Drake Cover)*
17. Birthday (Sugarcubes Cover)*
18. Candy And A Currant Bun (Pink Floyd Cover)*

Parte 1
Parte 2



Leonardo Rodrigues

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Finesse

Chique é ser inteligente, diria o clichê fashionista (na verdade marieclista). Sim, e não somente. Saber bem se vestir, relacionar, portar, falar; tudo isso conta pontos valorosos nos jogos de interação social. Mas antes, aprazia e lisura são essenciais.

Passei a noite de hoje assistindo a uma palestra sobre moda e comportamento, na abertura do Festival de Verão da UFMG, ministrada por ninguém menos que Glória Kalil. Namorar alguém especial é assim, antes de se dar conta você está sempre em situações e lugares especiais em que nunca imaginou estar.

Antecedida por abertura protocolar dos representantes da universidade - incluindo o reitor e a vice Heloísia Starling, esta de um domínio retórico de invejar os mais gabaritados profissionais da palavra - a autoridade da moda, com todo seu embasamento empírico/histórico, falou de identidade e civilidade.


Interessante até, mas nada próximo do carisma e atenção dispensada pela mulher. Elegância que após duas horas de palestra e muito menos que um copo d´água faz atender a todos que queriam uma foto, uma assinatura, um abraço ou apenas o prazer de estar por perto. Um por um, com o exato sorriso da foto acima. Distante dos estereótipos rasos propalados no universo antropofágico em que transita. Simplicidade, finesse é isso.



Leonardo Rodrigues

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Em quatro

Um disco: Enquanto os refletores ainda giram sobre a triunfal reunião do Led Zeppelin e as especulações sobre a viabilidade de uma turnê mundial, "Raising Sand" passa quase à meia luz. Trata-se do mais recente trabalho de Robert Plant, lançado em outubro último. Longe da Strange Sensation, banda que o acompanha desde o início da década, o dono dos cachos mais reluzente do rock une forças com a futura diva norte-americana do bluegrass Alison Kraus. O resultado, uma jóia de beleza rústica e bem acabada, com releituras de Tom Waits, Gene Clark e Townes Van Zandt; e que já contabiliza loas tecidas por crítica e público. Sem dúvida, um dos melhores álbuns do bom ano de 2007.


Um filme: Estranha mesmo é a sensação ao adentrar no requintado Shopping da Gávea, local de concorridas casas de teatro e point do elenco da Malhação, para assistir a algo como o autobiográfico La Faute à Fidel!” (“A culpa é do Fidel!”). Na película francesa, estréia de Julie Gravas na direção, a pequena Ana (Nina Kervel-Bey) se vê obrigada a abrir mão dos mimos de classe média parisiense quando os pais aderem à causa socialista. Ambientada no início dos anos 70, impossível não remeter ao olhar infantil sobre o desenrolar da história de produções como “Machuca” e “O Ano Que Meus Pais Saíram de Férias”. Mas aqui, de uma maneira mais branda. Com um humor que é suavemente construído através de um inusitado conflito entre pais de esquerda e uma filha nitidamente reacionária. Distorções capazes de furtar gargalhadas em ex-militantes que agora pagam 20 reais para abarrotar salas da Vivo com lugares marcados. Um filme sobre pessoas, como "Fidel" e eu gostamos.


Um livro: Sempre fui fã de biografias, e este é um filão que parece mais em alta do que nunca. Não li, mas fiquei curioso com “The Measure of a Man: A Spiritual Autobiography”, autobiografia de Sidney Poitier, ainda inédita no Brasil. Mesmo que incorra nos riscos óbvios de uma história crivada pelo próprio ponto de vista, Sidney definitivamente não é o tipo de homem que tenha algo a guardar. Da infância humilde nas Bahamas, passando pela frustração na primeira tentativa de entrar no showbusiness e a glória em romper barreiras raciais e se tornar o primeiro negro a receber um Oscar, por “Lilies Of The Field” ("Uma Vez Nas Sombras”), de 63. Editado em 2000, o livro recebeu nova edição no ano passado, marca do octagésimo aniversário do ator, diretor e ícone - além de um jantar de gala no “Ophra Winfrey Show”.


Um programa de TV: Nem Marta Suplicy, nem Penélope Nova. Nenhuma delas chega perto da sapiência e desenvoltura de Sue Johanson. Do alto de seus 77 anos, esta simpática senhora canadense comanda o "Talk Sex" ("Falando de Sexo"), exibido nos EUA pelo canal a cabo Oxygen e por aqui pela GNT. No programa, sem quaisquer papas na língua nem vulgarismos, Sue responde às dúvidas mais íntimas dos telespectadores. Didática, ela se vale de uma espirituosidade ímpar e dos mais variados aparatos e reproduções genitais. Tudo para que todos os “is” sejam devidamente pingados. Tem coisas que só o tempo ensina. Há mais de trinta e cinco anos ela trabalha como conselheira sexual, possui uma série de livros publicados e é dona da própria marca de “sex toy”, a “Talk Sex Royal Line”.



Leonardo Rodrigues

domingo, 27 de janeiro de 2008

Sorin



Ainda existe, em tempos de futebol 'profissional', amor à camisa. Abaixo reproduzo a carta em que Juan Pablo Sorin se despede do Cruzeiro depois do título da Sul-Minas de 2002.


Há quatro meses conquistamos a Copa Sul Minas. Há quatro meses fui embora do Cruzeiro. O texto abaixo escrevi para mim, porém, senti a necessidade de compartilhá-lo com vocês. Simplesmente para que saibam a importância que tudo isso tem na minha vida. Simplesmente para seguirmos juntos, apesar da distancia. Hoje, estréio em meu novo time. São muitas as expectativas e as vontades de sempre, mas esperando um dia retornar a minha segunda casa.


15:58 hs – Banderas en tu corazón (Bandeiras no teu coração).

Setenta e cinco mil caras esperando ver o Cruzeiro campeão. Saímos rodeados de mascotes e crianças, que nos acompanham sempre com um sorriso. Pegamos forte e corremos para o gramado. Uma olhada rápida, mãos para o alto e as primeiras emoções. Não é comum e é até anormal muitas camisas argentinas, celestes e brancas, no Brasil todas sentimentalmente distinguíveis. Chegam as placas de homenagem. Primeiro, do presidente. Depois, da Máfia Azul e logo uma camisa inesquecível com o meia dúzia nas costas, assinada por todos os funcionários do clube. A melhor homenagem, da cozinheira ao roupeiro, os encarregados da limpeza, até meus colegas, médicos, técnicos... Vale ouro! Vale mais suor, ainda! Sorteio a moeda da Fifa. Deu branco e ganhei. No segundo tempo, atacaremos junto ao grosso da nossa torcida. Antes de começar toca o hino brasileiro. Todos cantam e eu não. Procuro minha companheira e concentro-me em silêncio. Observo a torcida e na arquibancada há uma bandeira argentina. Que orgulho! Não posso acreditar. Onde estão meus amigos do bairro para contar-lhes? Jogam balões para os céus com meu rosto estampado numa bandeira vertical. É minha despedida, a parte da final. Contenho as lágrimas, soa o apito.

16h20 - Sarando as feridas

Meu Deus! Um choque forte, toco a sobrancelha. Sangue. Puta que pariu! De novo? Quarto corte na cabeça em dois anos e meio. Queria jogar e o juiz reserva "canarinho" disse-me que não! Quase pede minha substituição e disse-me que há muito sangue. Peço-lhe por favor. Hoje, não me deixes de fora, irmão! Ele não entende bem, mas me permite entrar e lá vou eu como um "papai smurf". Serão seis pontos no intervalo, 0 a 0, com uma bola na trave e um susto forte.


17h40 - Oh meu pai, eu sou Cruzeiro meu pai...

Tira a camisa! Tira a camisa! Parece uma bola perdida, mas sei que o Ruy vai ganhá-la. O "cabeção," meu amigo e parceiro de quarto, vai tocá-la por um lado e buscá-la pelo outro (fez uma gaúcha, berra o locutor). Entra na área e só rola para trás. Não sei o que faço aí, a não ser confiar nele. Não sei o que faço senão ir além do sonho da despedida e não há tempo para pensar. Com três dedos e meio esquisitos de prima, com a sempre canhota bendita e a rede se mexe, é o mundo que explode, vem o delírio, a festa... Não pode ser real. As cabecinhas que pulam descontroladas, a camisa voando na mão e um grito eterno, inesquecível, uma dança especial.


17h55 - Ah, eu tô maluco!

Bicampeão!Faltam segundos e não existe sensação comparável como a de ser campeão. Nos olhamos cúmplices com o Cris e rimos da conquista depois do esforço. Somos irmãos, somos um punhado azul de raça inquebrantável, enquanto o pessoal na arquibancada baila, grita, goza e por fim estoura com o final. Escuta-se um estrondo inconfundível. Um abraço, dois, um milhão, a correria perdida, louca, entre pulos, festejos com cada companheiro, Toninho, Valdir, Tita e Bolinha, todos malucos. De repente um cara me leva nas costas e damos a volta olímpica. Não quero que isso termine e penso se pudesse parar o tempo nesse instante, mas não posso. E aí, vou dando-me conta que também é o final para mim, que estou indo embora do meu time, da minha cidade, da minha gente. Então, vem a enorme emoção e comemoro como sempre, desenfreado, sem limites, como se fosse a última vez. Comemoro e cumprimento cada canto do maravilhoso Mineirão. Despeço-me e quero abraçar a todos. Quero que dêem a volta conosco, quero dizer-lhes que eles não sabem como necessitamos de todos aqui dentro. Vejo as faixas e ainda não acredito. Vejo os rostos de alegria e até hoje nada sai da minha mente. Depois de tudo, a surpresa com a presença de minha mãe exatamente no Dia das Mães e é impossível não chorar. Finalmente, recebo a Copa tão desejada. É bonito ser capitão. É grandioso ser capitão do Cruzeiro e ser campeão. Levantamos a taça, desfrutamos e saímos a oferecer aos milhares que estavam por todas as partes até o cansaço. Imagino Minas. Imagino Belo Horizonte. Tudo se acaba e não podia ser tão perfeito. Será que sonhei?Nem um sonho seria tão incrível. Estou partindo e pensando se algum outro dia serei tão feliz!


Juan Pablo Sorin



Pedro Grossi