Diz Affonso Romano de Sant'Anna sobre Luiz Fernando Carvalho:"Ele consegue levar para a tela uma das coisas mais imponderáveis da narrativa: o maravilhoso."
Dizer mais o que?
Vinte e dois e uma bola. É quase ultrajante de tão simples. E quase quântico de tão complexo. A alegoria, sublimação, da guerra. Não do bem contra o mau, mas do bem e do mau contra a mediocridade da vida, dos nós de gravata dados a contragosto, do engarrafamento nosso de cada dia, das risadas enlatadas e dos choros entubados. Do sentimento programado e da emoção corporativa. O momento de êxtase, uma visita às origens do instinto, da racionalidade zero e da paixão em estado de arte. O yin-yang das massas.
Amigos forjados pelas cores da camisa e não pela justeza do caráter ou nobreza das idéias comuns assistem à batalha campal. Pouco podem fazer se não entregar sua alma àquele ideal. E elevá-la aos céus ou rebaixá-la às profundezas em questão de segundos. Em qualquer caso, no entanto, já se fez o bem de tirar o espírito da fria zona cinzenta da rotina. Condicionar sua felicidade à imprevisibilidade do jogo. Não a felicidade de verdade, mas a subfelicidade, equivalente sentimental do subconsciente. A felicidade instintiva e irracional de ver vinte e dois e uma bola e as possibilidades infinitas que essa premissa traz.
Se fosse uma música seria Jazz e se fosse arte seria Teatro. Porque é escrito ali, diante dos olhos, com enredos intrincados ou diretos, com os fracos ganhando dos fortes, os fortes ganhando dos fracos, sem politicamente corretismos, sem didatismos, sem logicismos. É onde, ainda que por um breve lampejo, se vê a vida acontecer.
Por isso, futebol.
Pedro Bial... ops, Grossi
Simplesmente sensacional este site. Além de um catálogo super completo de marcas de aparelhos vintage, traz uma seção com as capas dos 10 anos da extinta e saudosa “SOMTRÊS”. Revista criada e editada por Maurício Kubrusly (o próprio).
O misterioso disco compacto de 1979, o ultra-futurístico vídeo-disco, os mini-hacks, o som nos carros, a praga dos “3 em 1”, a revolução do vídeo, a febre dos games e do walkman, a chegada do videotexto (a saber). Parafernálias sortidas e inimagináveis. Sem contar coisas até bem atuais, o rescaldo cultural do Rock in Rio 1 e os ecos das “Diretas Já”.
Tudo lá, com uma excitação ingênua que só o tempo é capaz de deixar ainda mais saborosa.
Faz lembrar como deve ter sido legal quando você precisava montar o próprio som, na era dos modulares – ‘megalomania’ que é a cara dos anos 70.
Atualmente, com o advento mp3 e os mini systems, que invariavelmente tomam um pau de qualquer antigo somzão, parece que ninguém mais liga para isso.
Quem hoje compraria a “SOMTRÊS”?
Sinto-me um verdadeiro E.T. esquadrinhando sites e casas de usados para tentar montar o meu primeiro. A edição número 2 seria uma mão na roda.
Algumas chamadas de capa são hilárias, como “O que Elvis Presley achou do Rock in Rio”, “O avanço do cassete de áudio digital apavora todo o mundo”, "Exclusivo: esta revista não contém nenhum balanço da década”, “Rolling Stones xingam os Beatles”.
E ainda consegue ser impressionante a variação de preço a cada edição.
Descontado o senso estético ímpar da época, algumas capas são até bem legais. Mas nada redime a primeira delas, trazendo a “volúpia” (bota aspas) de Zezé Motta (Glória Maria?). Em papel laminado, de brinde, de oncinha.
O som, por obséquio.
Leonardo Rodrigues
Finalmente tenho em mãos esta bíblia/guia/enciclopédia/tijolo. Compilação encabeçada por Robert Dimery e Michael Lydon (co-fundador da Rolling Stone) que traz, além de belas imagens, uma penca de resenhas assinadas por críticos internacionais. Quase todas muito boas. Respeitando ordem cronológica, numa espécie de raio-X da história da indústria do disco.
Omissões e inclusões indecorosas à parte - naturais mesmo a algo tão extenso -, a lista é bem sensata. E é só uma lista de discos, pois.
Por um lado, a atenuante constatação de que boa parte deles não de hoje integram minha liturgia musical. De outro, a inevitável sensação de pequeneza frente a capas e nomes nunca dantes vistos mais rechonchudos.
Mas o melhor é a contribuição da força-tarefa solitária deste abnegado. Com links do MediaFire! Não há como não favoritar.
Pode-se dividir o trabalho em dois blocos distintos. O primeiro, mais “conservador”, divide tocadas mais pesadas com amenidades acústicas estrategicamente interpostas. A saber: o rockão cadenciado de “We Who See the Deep”, o blues rijo de “Evergreen”, “Walk Believer Walk” com seu vigor zeppeliano e, ainda, “Goodbye Daughters of the Revolution”, faixa de abertura, dada a um refrão deliciosamente pop. Entre as baladas, a southern “Oh Josephine”, própria de quem há muito destrincha as discografias de The Band e dos Flying Burrito Brothers, a bela “Locust Street”, que traz bandolins e a influência de Dylan, além da toada-blues “God's Got It”, cover do reverendo Charles Jack - uma das poucas alusões ao gospel da vez.
Já o segundo, concentrado basicamente na parte final, surge num viés mais híbrido e lisérgico. “Movin' On Down the Line”, que joga com psicodelia e a levada característica do grupo, “Wounded Bird”, transitando por um riff no melhor estilo “The Seeker”, do The Who, e “There's Gold in Them Hills”, balada country de melodias de encher os olhos de qualquer fã de Elton John. “Whoa Mule” é o algo mais, que mistura Índia com bluegrass de modo tão natural quanto surpreendente.
Partindo de “Warpaint”, percebe-se que os Crowes já cruzaram a fronteira da mera auto-referência estilística. Estão no caminho certo e seguro do seu “mais do mesmo”. Mas, felizmente, ainda generosos em selecionar e repaginar referências do cancioneiro popular norte-americano (e inglês), não se dando ao ao luxo de abjurar de personalidade. Como se compusessem a trilha ideal de um road movie dirigido pelo “xará” Cameron Crowe. Na dúvida, é sempre uma boa viagem.
Leonardo Rodrigues
Interessante até, mas nada próximo do carisma e atenção dispensada pela mulher. Elegância que após duas horas de palestra e muito menos que um copo d´água faz atender a todos que queriam uma foto, uma assinatura, um abraço ou apenas o prazer de estar por perto. Um por um, com o exato sorriso da foto acima. Distante dos estereótipos rasos propalados no universo antropofágico em que transita. Simplicidade, finesse é isso.
Leonardo Rodrigues
Um filme: Estranha mesmo é a sensação ao adentrar no requintado Shopping da Gávea, local de concorridas casas de teatro e point do elenco da Malhação, para assistir a algo como o autobiográfico “
Um livro: Sempre fui fã de biografias, e este é um filão que parece mais em alta do que nunca. Não li, mas fiquei curioso com “The Measure of a Man: A Spiritual Autobiography”, autobiografia de Sidney Poitier, ainda inédita no Brasil. Mesmo que incorra nos riscos óbvios de uma história crivada pelo próprio ponto de vista, Sidney definitivamente não é o tipo de homem que tenha algo a guardar. Da infância humilde nas Bahamas, passando pela frustração na primeira tentativa de entrar no showbusiness e a glória em romper barreiras raciais e se tornar o primeiro negro a receber um Oscar, por “Lilies Of The Field” ("Uma Vez Nas Sombras”), de 63. Editado em 2000, o livro recebeu nova edição no ano passado, marca do octagésimo aniversário do ator, diretor e ícone - além de um jantar de gala no “Ophra Winfrey Show”.
Um programa de TV: Nem Marta Suplicy, nem Penélope Nova. Nenhuma delas chega perto da sapiência e desenvoltura de Sue Johanson. Do alto de seus 77 anos, esta simpática senhora canadense comanda o "Talk Sex" ("Falando de Sexo"), exibido nos EUA pelo canal a cabo Oxygen e por aqui pela GNT. No programa, sem quaisquer papas na língua nem vulgarismos, Sue responde às dúvidas mais íntimas dos telespectadores. Didática, ela se vale de uma espirituosidade ímpar e dos mais variados aparatos e reproduções genitais. Tudo para que todos os “is” sejam devidamente pingados. Tem coisas que só o tempo ensina. Há mais de trinta e cinco anos ela trabalha como conselheira sexual, possui uma série de livros publicados e é dona da própria marca de “sex toy”, a “Talk Sex Royal Line”.