quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Johnny Mathis - Open Fire, Two Guitars (1959)

1. Open Fire
2. Bye Bye Blackbird
3. In The Still Of The Night
4. Embraceable You
5. I'll Be Seeing You
6. Tenderly
7. When I Fall In Love
8. I Concentrate On You
9. Please Be Kind
10 - You'll Never Know
11 - I'm Just A Boy In Love
12 - My Funny Valentine


Relutei em colocar este álbum por aqui. Por ele já ter sido descrito no blog do Ruy Goiaba, por já ter passado a fase de ouvi-lo diariamente, de fio a pavio, ou por já ter aconselhado a alguns nobres pachecos.

O que importa é que isso não o redime de ser um dos discos mais belos de jazz vocal que já tive o comprazer de ouvir. Por sulcos de vinil, escuto Johnny Mathis desde o tempo das calças curtas (hoje?). Ele e Tony Bennett, Andy Williams, Frank Laine, entre outros crooners campeões dos bailes de terceira idade.

Como é bom redescobrir certas coisas.



Leonardo Rodrigues

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Fábula da vida real



Se não fazem parte de uma trilogia, “Cidade de Deus”, “O jardineiro fiel” e “Ensaio sobre a cegueira” têm muito em comum. Todos tratam do holocausto humano. Da absoluta degradação moral e física causada por uma situação social extrema; seja uma África desamparada, uma comunidade dominada pelo tráfico ou uma cidade em que as pessoas perdem a visão. Se nos dois primeiros casos as histórias eram baseadas em fatos reais, em ‘Cegueira’ a narrativa funciona como uma alegoria para os primeiros enredos. A metáfora da cegueira, ou da invisibilidade social, justifica as atrocidades descritas tanto em ‘Cidade de Deus’ quanto em ‘O Jardineiro Fiel’. A incômoda temática é a mesma.

Nesses três filmes do Meirelles (não vi seus outros dois trabalhos, Domésticas e Menino Maluquinho 2) a tese é a de que, sob condições adversas, o homem se transforma em sua principal ameaça, mais do que zumbis, extra-terrestres ou plantas que liberam toxinas - é verdade que em ‘O jardineiro fiel’ ricos laboratórios farmacêuticos também são grandes vilões. O conflito social é mais importante e mais presente do que os personagens em si. Geralmente um personagem – o um que representa o todo – carrega a narrativa sob o próprio ponto de vista, moldando e remodelando os conceitos de ética e moral a partir das situações extremadas a que é submetido. Em ‘Ensaio sobre a cegueira’, Juliane Moore faz a mulher do médico. Apesar de conduzir a história, ela não tem nome, é o humano universal. No filme, ela é a única a enxergar em um sanatório para onde são jogados todos aqueles que inexplicavelmente perderam a visão. O ‘super-poder’ lhe confere também o fardo de tentar estabelecer alguma ordem e alguma justiça em um ambiente cada vez mais hostil e caótico. Ela mata, vinga a traição cometida pelo marido, se desespera e perdoa. Em alguns momentos age como um animal protegendo a comida e o abrigo do seu pequeno grupo, em outros age com a sensibilidade e carinho típicos da humanidade em seus bons momentos.

A proposta do Saramago casa perfeitamente com a linha adotada pelo cinema do Fernando Meirelles. É uma profunda e aterradora crítica social, mas sem saídas fáceis. A culpa não é do Estado, nem da Polícia, nem da Família, nem da Igreja, nem do Tráfico, nem dos Maconheiros playboys, nem da Mídia. Os dilemas levantados são difíceis de resolver. Como a história é universal, ela tem também um pouco de nós, do nosso egoísmo, da nossa ganância, da nossa cegueira. Por isso o filme é indigesto. É uma fábula da vida real.

O tom quase documental dos seus outros dois membros da ‘trilogia’ está um pouco ausente nesse trabalho, mas não o realismo. Os computadores têm fios aparentes e as mesas de madeira encerada têm lascas de compensado faltando nas quinas. As faixas de pedestre são gastas e os consultórios médicos têm banquinhos de madeira nas salas de espera. A trilha do fundador do Uakti, Marco Antônio Guimarães, é mais perturbadora do que envolvente, mais incômoda do que aconchegante. A fotografia do César Charlone vai do café ao leite, como na cena de sexo de Alice Braga com o Mark Rufallo. A estética de Fernando Meirelles não é da harmonia, mas do caos. Em vez do tom solene e de espaços amplos e bem dispostos, barulho, paredes sujas, claustrofobia... São Paulo.




Pedro Grossi

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Depois da tempestade...


Estou agora ouvindo pela enésima vez o “Death Magnetic”. Todas aquelas sensações voltaram: O sonho de ter uma banda; a vontade quase incontrolável de disparar socos e pontapés em tudo que está próximo; deixar o cabelo crescer e andar com roupas rasgadas, porque nada é mais importante que a música. Na atual aridez do mercado fonográfico, salpicada por pequenos Oásis (com o perdão do trocadilho) de criatividade como Radiohead e Arcade Fire, o disco do Metallica é um alento. O inferno astral parece ter ficado pra traz. O fundo do poço (Some Kind of Monster, que só tem algum valor documental, e o inaudível St. Anger) ensinou que quanto mais uma banda se envolve nos melindres do show business, dando vez a picuinhas e estrelismos, mais ela se afasta da essência da música.

Rick Rubin, responsável direto pelo auge criativo de bandas como Red Hot Chilli Peppers, Slayer e Aerosmith, parece ter devolvido ao Metallica a alegria de viver. A banda não precisava de terapia, precisava apenas sacar que no grande teatro da vida o papel deles é fazer a trilha sonora das cenas de destruição, êxtase e fúria, deixando o drama para os que superestimam o próprio talento.

Buscando inspiração no estilo que ele mesmo ajudou a criar, o Metallica voltou mais rápido e envolvente do que nunca. Ao contrário de bandas que insistem em viver do passado, o Metallica não se auto-parodiou, mas se auto-afirmou. Perceberam que evoluir não é se render ao new metal ou ao estilinho da moda. Evoluir é expandir as fronteiras do próprio universo, como fazem o já citado Radiohead e até mesmo o Iron Maiden. Abraçando com intensidade a causa de resgatar o grupo das trevas, James Hetfield & Cia disparam clássicos instantâneos, como “The end of the line” e “My Apocalype”. Músicas longas e um instrumental matador, com solos (que saudade!) e quebras de ritmo, que nos fazem voltar no tempo. Rock runs out and nothing else mathers.

Pedro Grossi