quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Gigapan

É como se os monitores de tela plana tivessem chegado em Blade Runner.

Incrível o que é capaz esta tecnologia Gigapan (apesar das imperfeições com um zoom mais encherido).


Leonardo Rodrigues

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Ninguém está imune à crise


Pedro Grossi

Em Juiz de Fora do Estado...

..., certos assuntos precisam ser postos em segundo plano.

Leonardo Rodrigues

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Discurso de Barack Obama


O evento em si foi estafante, mas nem por isso menos importante. Durante a transmissão, um jornalista chegou a dizer que aquele era um “um dos momentos mais importantes da história universal”. Exageros à parte, é compreensível todo esse encantamento com a impressionante história de ascensão de Obama e com a trajetória de um país que, em cinco décadas, saiu da segregação racial para a posse de um presidente negro.

O discurso de posse do novo presidente, reproduzido abaixo, na íntegra, foi escrito por um jovem americano de 27 anos, parceiro habitual de Obama desde as prévias do partido Democrata e a quem Obama atribui o poder de ‘ler pensamentos’.

Meus caros cidadãos: Eu me coloco aqui hoje humildemente diante da tarefa à nossa frente, grato pela confiança com que vocês me honraram, ciente dos sacrifícios realizados pelos nossos ancestrais. Eu agradeço ao presidente Bush pelo seu serviço à nossa nação, bem como pela generosidade e cooperação que ele mostrou ao longo da transição.Quarenta e quatro americanos agora já fizeram o juramento presidencial. As palavras foram ditas durante crescentes marés de prosperidade e as águas calmas da paz. Mas, de tempos em tempos, o juramento é realizado entre nuvens que se formam e tempestades violentas. Nesses momentos, a América seguiu à frente não somente pela habilidade ou visão dos que estavam no alto escalão, mas porque Nós o Povo permanecemos confiantes nos ideais dos nossos ancestrais e fiéis aos nossos documentos fundadores. Assim tem sido. Assim deve ser com essa geração de americanos.Que nós estamos em meio a uma crise é agora bem sabido. Nossa nação está em guerra, contra uma rede de longo alcance de violência e ódio. Nossa economia está bastante enfraquecida, em consequência da ganância e irresponsabilidade por parte de alguns, mas também por nosso fracasso coletivo em fazer escolhas difíceis e preparar a nação para uma nova era.


Casas foram perdidas; empregos cortados; negócios fechados. Nosso sistema de saúde está muito dispendioso; nossas escolas fracassam com muitos; e cada dia traz novas evidências de que as formas como usamos a energia fortalecem nossos adversários e ameaçam nosso planeta.Esses são os indicadores da crise, assunto de dados e estatísticas. Menos mensurável, mas não menos profundo, é o enfraquecimento da confiança ao longo de nossa terra - um medo repetido de que o declínio da América é inevitável, e que a próxima geração deve diminuir suas perspectivas.Hoje eu digo a vocês que os desafios que nós enfrentamos são reais. Eles são sérios e são muitos. Eles não serão vencidos facilmente ou em um período curto de tempo. Mas saiba disso,América: eles serão vencidos.Nesse dia, nos reunimos porque nós escolhemos a esperança em vez do medo, a unidade de propósito em vez do conflito e da discórdia.


Nesse dia, nós viemos para proclamar o fim às queixas mesquinhas e falsas promessas, às recriminações e aos dogmas desgastados, que por muito tempo já têm enfraquecido nossa política.Nós continuamos uma nação jovem, mas de acordo com as palavras da Escritura, chegou a hora de se deixar de lado as infantilidades. Chegou a hora para reafirmar nosso espírito tolerante; para escolher nossa melhor história; para prosseguir com esse precioso dom, essa nobre ideia, passada de geração a geração: a promessa dada por Deus de que todos somos iguais, todos somos livres e todos merecem uma chance de buscar sua completa medida de felicidade.Ao reafirmar a grandiosidade de nossa nação, nós entendemos que a grandeza nunca é dada. Ela deve ser conquistada.


Nossa jornada nunca foi de atalhos ou de aceitar menos. Não foi a trilha dos inseguros - daqueles que preferem o descanso ao trabalho, buscam apenas os prazeres das riquezas e da fama. Em vez disso, (nossa jornada) tem sido uma de tomadores de risco, atuantes, fazedores das coisas - alguns celebrados, mas muitos outros homens e mulheres obscuros em seu trabalho - que nos levaram pela longa e espinhosa rota rumo à prosperidade e à liberdade.Para nós, eles empacotaram suas poucas posses e viajaram pelos oceanos em busca de uma nova vida.Para nós, eles trabalharam duro em fábricas exploradoras e seguiram rumo a Oeste; suportaram o açoite do chicote e lavraram a terra dura.Para nós, eles lutaram e morreram, em lugares como Concord e Gettysburg; Normandy e Khe Sahn.Ao longo do tempo, esses homens e mulheres lutaram e se sacrificaram e trabalharam até suas mãos ficarem em carne viva, para que pudéssemos ter uma vida melhor. Eles viram a América maior do que a soma de suas ambições individuais; maior que todas as diferenças de nascimento ou riqueza ou facção.Essa é a jornada que nós continuamos hoje. Nós permanecemos a mais próspera e poderosa nação da Terra.


Nossos trabalhadores não são menos produtivos do que quando essa crise começou. Nossas mentes não têm menos imaginação, nossas mercadorias e serviços não são menos necessários do que eram na semana passada, no mês passado ou no ano passado. Nossa capacidade permanece a mesma. Mas nossa hora de proteger interesses estreitos e adiar decisões desagradáveis - esse tempo certamente passou. Começando hoje, nós precisamos nos levantar e começar de novo o trabalho de reconstruir a América.Para todos os lugares que olhemos, existe trabalho a ser feito. A situação da nossa economia pede ação, ágil e rápida, e nós agiremos - não apenas para criar novos empregos, mas para lançar a fundação para o crescimento. Nós construiremos as estradas e pontes, as instalações elétricas e linhas digitais que alimentam nosso comércio e nos mantém juntos. Nós levaremos a ciência a seu lugar de merecimento e controlaremos as maravilhas da tecnologia para aumentar a qualidade do sistema de saúde e reduzir seu custo.Nós usaremos o Sol e os ventos e o solo para abastecer nossos carros e movimentar nossas fábricas. Nós transformaremos nossas escolas, faculdades e universidades para suprir as demandas de uma nova era. Tudo isso nós podemos fazer.


E tudo isso nós faremos. Agora, existem alguns que questionam a escala das nossas ambições - que sugerem que nosso sistema não pode aguentar planos tão grandiosos. Eles têm memória curta. Porque eles se esqueceram de tudo o que nosso país fez; o que homens e mulheres livres podem conseguir quando a imaginação se junta para objetivos comuns e a necessidade para a coragem.O que os cínicos não entendem é que o chão que eles pisam não é mais o mesmo - que as disputas políticas que nos envolveram por muito tempo não existem mais. A questão que perguntamos hoje não é se nosso governo é muito grande ou muito pequeno, mas se ele funciona - se ele ajuda as famílias a encontrarem empregos que pagam um salário decente, que tipo de seguridade eles dão, uma aposentadoria que seja digna. Onde a resposta é sim, nós queremos ir em frente. Onde a resposta é não, os programas acabarão. E aqueles de nós que manejam os dólares públicos terão que prestar contas - para gastar de maneira sábia, reformar maus hábitos, e fazer nossos negócios à luz do dia - porque apenas assim nós podemos restaurar a confiança vital entre o povo e o governo.Também não á a questão que se apresenta a nós se o mercado é uma força para o bem ou para o mal. Seu poder de gerar riquezas e expandir a liberdade é ilimitado, mas esta crise nos fez lembrar que sem vigilância, o mercado pode sair do controle - e uma nação não pode prosperar por muito tempo quando favorece apenas os mais ricos. O sucesso da nossa economia sempre dependeu não apenas do tamanho do nosso Produto Interno Bruto (PIB), mas do poder da nossa prosperidade; na nossa habilidade de estendê-la a cada um, não por caridade, mas porque esse é o caminho mais seguro para o bem comum.Quanto à nossa defesa comum, rejeitamos a falsa escolha entre nossa segurança e nossos ideais.


Os fundadores do país, que enfrentaram perigos que sequer imaginamos, redigiram uma carta para assegurar o primado da lei e dos direitos do homem, uma carta expandida pelo sangue de gerações. Esses ideais ainda iluminam o mundo, e nós não vamos abandoná-los por conveniência. E, então, para todos os povos e governos que estão assistindo hoje, das grandes capitais ao pequeno vilarejo onde meu pai nasceu: Saibam que a América é amiga de cada nação e de cada homem, mulher ou criança que procure um futuro de paz e dignidade, e que nós estamos prontos para liderar uma vez mais.Lembrem-se que gerações anteriores enfrentaram o fascismo e o comunismo não apenas com mísseis e tanques, mas com alianças robustas e convicções duradouras. Eles entenderam que nosso poder sozinho não pode nos proteger, nem nos dá o direito de fazer o que quisermos.


Em vez disso, eles entenderam que nosso poder cresce com seu uso prudente; nossa segurança emana da Justiça de nossa causa, da força de nosso exemplo, da têmpera das qualidades de humildade e moderação.Nós somos os guardiães desse legado. Guiados por esses princípios uma vez mais, podemos enfrentar novas ameaças que exigem um esforço maior - maior cooperação e compreensão entre as nações. Começaremos por sair do Iraque com responsabilidade e por criar um esforço de paz no Afeganistão. Com velhos amigos e antigos adversários vamos trabalhar incansavelmente para diminuir a ameaça nuclear, e reduzir o espectro do aquecimento global. Não vamos pedir desculpas por nosso modo de vida, nem vamos vacilar em sua defesa, e, para aqueles que procurarem avançar em seus objetivos produzindo terror e matando inocentes, diremos a eles que nosso espírito é mais forte e não pode ser quebrado; eles não poderão prevalecer e nós os derrotaremos.Sabemos que nossa herança multicultural é uma força, não uma fraqueza.


Somos uma nação de cristãos e muçulmanos, judeus e hindus - e ateus. Somos moldados por cada língua e cultura, de cada parte desta Terra; e por causa disso provamos o sabor mais amargo da guerra civil e da segregação e emergimos desse capítulo mais fortes e mais unidos; não podemos senão acreditar que os velhos ódios passarão um dia; que as linhas das tribos vão se dissolver rapidamente; que o mundo ficará menor, nossa humanidade comum deve revelar-se; e que a América vai desempenhar o seu papel em uma nova era de paz.Para o mundo muçulmano, buscamos um novo caminho a seguir, baseado em interesse e respeito mútuo. Para aqueles líderes pelo mundo que buscam semear o conflito, ou culpam o Ocidente pelosmales de suas sociedades: Saibam que seus povos irão julgá-los a partir do que vocês podem construir, e não destruir. Para aqueles que se agarram ao poder por meio da fraude e da corrupção, saibam que estão no lado errado da História; mas nós estenderemos a mão se vocês estiverem dispostos a cooperar.


Às pessoas das nações pobres, nós queremos trabalhar a seu lado para fazer suas fazendas florescerem e deixar os cursos de água limpa fluírem; para nutrir corpos famintos e alimentar mentes ávidas. E para aquelas nações como a nossa, que vivem em relativa riqueza, queremos dizer que não podemos mais suportar a indiferença quanto ao sofrimento daqueles que sofrem fora de nossas fronteiras; nem podemos consumir os recursos do mundo sem nos importar com as consequências. Nós devemos acompanhar as mudanças do mundo.À medida que entendemos o caminho que se desdobra diante de nós, recordamos com humilde gratidão aqueles bravos americanos que, a esta mesma hora, patrulham longínquos desertos e montanhas distantes. Eles têm algo a nos dizer hoje, como aqueles heróis caídos que jazem em Arlington murmuram através dos tempos. Nós os honramos não apenas porque eles não os guardiães de nossa liberdade, mas porque eles representam o espírito de servir ao país; a disposição de encontrar um significado maior que si mesmos. E ainda, neste momento - um momento que vai definir uma geração - é precisamente esse espírito que todos nós devemos viver.Porque, por mais que o governo possa fazer e precise fazer, em última instância é da fé e da determinação do povo americano que esta nação depende.


É a bondade de receber um estranho quando os diques se rompem, é o desprendimento de trabalhadores que preferem reduzir suas horas a ver um companheiro perder o emprego o que nos auxilia em nossas horas mais sombrias. É a coragem do bombeiro de subir uma escada cheia de fumaça, mas também a disposição de pais de criar uma criança o que, no fim das contas, decide o nosso destino.Nossos desafios podem ser novos. Os instrumentos com os quais nós os enfrentamos podem ser novos. Mas aqueles valores dos quais nosso sucesso depende - trabalho duro e honestidade, coragem e justiça, tolerância e curiosidade, lealdade e patriotismo - essas coisas são antigas. Essas coisas são verdadeiras. Elas têm sido a força quieta do progresso ao longo de nossa história. O que se exige, então, é uma volta a essas verdades. O que se exige de nós agora é uma nova era de responsabilidade - um reconhecimento, por parte de todo americano, de que nós temos deveres para conosco, nossa nação e o mundo; deveres que nós não aceitamos a contragosto, mas com alegria, firmes no conhecimento de que não há nada tão satisfatório para o espírito, tão definidor de nosso caráter, do que dar tudo o que podemos numa tarefa difícil.Este é o preço e a promessa da cidadania.Esta é a fonte de nossa confiança - o conhecimento de que Deus nos convoca a dar forma a um destino incerto.Este é o significado de nossa liberdade e de nosso credo - por que homens e mulheres e crianças de toda raça e de toda fé podem se unir numa celebração neste magnífico Mall, e por que um homem cujo pai, menos de 60 anos atrás, poderia não ser servido num restaurante local, agora pode estar diante de vocês para fazer um juramento sagrado.Por isso, vamos marcar esse dia com a lembrança de quem somos e quão longe viajamos.


No ano do nascimento da América, no mais frio dos meses, um pequeno grupo de patriotas se encolhia em torno de fogueiras que se apagavam, às margens de um rio gelado. A capital estava abandonada. O inimigo estava avançando. A neve estava manchada de sangue. Num momento em que nossa revolução estava em dúvida, o pai de nossa nação ordenou que essas palavras fossem lidas para o povo:"Que seja dito ao mundo futuro que, na profundidade do inverno, quando nada além da esperança e da virtude poderia sobreviver, a cidade e o país, alarmados diante de um perigo comum, saiu para enfrentá-lo."América. Em face de nossos perigos comuns, neste inverno de nossas dificuldades, vamos lembrar essas palavras eternas. Com esperança e virtude, vamos enfrentar uma vez mais as correntes geladas e resistir quaisquer tempestades que possam vir. Que seja dito pelos filhos de nossos filhos que, quando fomos testados, nós nos recusamos a deixar esta jornada terminar, que nós não viramos as costas, que nós não vacilamos; e, com os olhos fixos no horizonte e a graça de Deus sobre nós, levamos adiante o grande dom da liberdade e o entregamos com segurança paras as gerações futuras."


Barack Obama
ghost writer: Jon Fraveau – 27 anos
Pedro Grossi

domingo, 18 de janeiro de 2009

Reginald Kenneth Dwight

Pela transmissão "ao vivo" do show de Sir. Elton Hercules John, ontem, em São Paulo, deu pra sacar que o sexagenário ainda é capaz de uma apresentação digna. Fato que não o ressarce de sua voz, hoje de caminhoneiro romântico de posto de beira de estrada, tornar clássicos tão reconhecíveis quanto a inteligência de George W. Bush.

Breguices jardim botânicas no cômputo, como a traslucida tarja rosada de letras traduzidas - que pareava com a discretíssima idumentária shocking deep pink e o kit de bateria do senhor (e ex-adrógino) Nigel Olsson.

Enquanto a aposentaria parece uma certidão que já deveria ter sido assinada, o passado é glorioso. Para citar austeramente apenas dois exemplos, os discos "Madman Across The Water" e "Goodbye Yellow Brick Road" são highlights da década de 70 e da música popular universal.

E como decidi que domingo é dia de "rádio blog", deixo quatro das melhores faixas deste londrino que nem sempre foi índice de elevadores, tios, salas de espera e vea... Ah, just forgive about it and enjoy!


Love Song


Funeral For A Friend/Love Lies Bleeding (live)


Sixty Years On (live)


Indian Sunset




Leonardo Rodrigues

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

80 anos de Tintin

Sou do segundo tempo da prorrogação da geração TV, da pipoca aos domingos, das arrumações arqueológicas semestrais do quartinho, da bicicleta na Praça da Assembléia, das idas mensais de dois carrinhos trasbordados ao Carrefour.

Os ressentimentos de ter me apegado a detalhes menores (será?) nunca escondeu minha nostalgia. Às vezes parece que respiro isso. Às vezes parece que vivo em 1993. E em 93, o melhor desenho animado de todos os tempos do quarto dos meus pais, e da minha TV preto e branco valvulada, respondia por “As Aventuras de Tintim”. Ele, o maior repórter da Cultura, de Bruxelas e do universo!

Tenho vergonha de nunca ter lido Tintin, que esse ano chega ao octogésimo verão. Quando revi algo da série em 2003, parecia difícil acreditar em como um desenho daquele conseguia prender tanto a atenção de um projeto de 9 anos de idade. Hergé criou um mito e um traço registrado, único, capaz de transformar melindrosas investigações com fundo histórico/contemporâneo em narrativas leves de tão saborosas, nada óbvias. O cão Milú, os detetives atrapalhados Dupond e Dupont, o mouco Professor Trifólio Girassol, o Capitão Haddock e seu cabedal inesquecível de bravatas, a estridente Bianca Castafiore.

Episódio preferido? Difícil! Talvez o da viagem à lua.

“Bancando o idiota?”


Saudade, saudade.




Leonardo Rodrigues

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Old Buk



Não há nenhum factual que justifique o texto abaixo (Forçando bastante a barra, talvez o gancho seja o Globo de Ouro de Mickey Rourke, que interpretou Bukowski no filme Barfly). Só quis compartilhar o último texto do diário que Charles Bukowski passou a escrever nos últimos anos de vida – ele morreu em 94. Motivado pelo seu editor e por seu Mac, que o tornou muito mais profícuo, o velho Buk registrava suas impressões num diário, postumamente publicado com o título “O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio”. Os dias de bêbado vagabundo já haviam ficado pra trás, mas o ‘sujo refinamento’ característico ainda dá as cartas.

O capitão saiu para o almoço e os marinheiros tomaram conta do navio.
Por que há tão poucas pessoas interessantes? Em milhões, por que não há algumas? Devemos continuar a viver com esta espécie insípida e tediosa? Parece que seu único ato é a Violência. São bons nisso. Realmente florescem. Flores de merda, emporcalhando nossas chances. O problema é que tenho que continuar a me relacionar com eles. Isto é, se eu quiser que as luzes continuem acesas, se eu quiser consertar esse computador, se eu quiser dar a descarga na privada, comprar um pneu novo, arrancar um dente ou abrir a minha barriga, tenho que continuar a me relacionar. Preciso dos desgraçados para as menores necessidades, mesmo que eles mesmos me causem horror. E horror é uma gentileza.
Mas eles pisoteiam a minha consciência com seu fracasso em áreas vitais. Por exemplo, todos os dias, volto ao hipódromo apertando o rádio em diferentes estações procurando música, música decente. Tudo é ruim, insípido, sem vida, sem melodia, indiferente. Mesmo assim, algumas dessas composições são vendidas aos milhões e seus criadores se consideram verdadeiros Artistas. É horrível, uma idiotice terrível entrando em jovens cabeças. Eles gostam disso. Cristo, dê merda a eles, e eles comem. Não conseguem discernir? Não conseguem ouvir? Não sentem a diluição, o mofo?
Não posso acreditar que não haja nada. Continuo tentando novas rádios. Meu carro tem menos de um ano, mas a tinta preta do botão que aperto já está totalmente gasta. Agora o botão está branco, marfim, olhando pra mim.
Bem, é, existe a música clássica. Tenho que me acostumar com isso. Mas sei que ela vai sempre estar lá pra mim. Escuto isso de três a quatro horas por noite. Mas ainda continuo procurando outro tipo de música. Só que não existe. Deveria existir. Isso me perturba. Escamotearam toda uma outra área. Pense em todas as pessoas vivas que nunca ouviram música decente. Não se admira que seus rostos estejam caindo, não se admira que esteja faltando o coração.
Bem o que eu posso fazer? Nada.
Os filmes são tão ruins quanto a música. Você ouve ou lê a crítica. Um grande filme, dizem. E daí saio pra ver o tal filme. E sento lá me sentindo um grande idiota, me sentindo roubado, enganado. Posso adivinhar a próxima cena antes de acontecer. E os motivos óbvios dos personagens, o que os move, o que desejam, o que é importante para eles é tão infantil e patético, tão enfadonho e grosseiro. As partes românticas são irritantes, velhas, bobagens preciosistas. Acho que a maioria das pessoas vê filmes demais, E, com certeza, os críticos. Quando dizem que um filme é ótimo, querem dizer que é ótimo em relação aos outros filmes que viram. Perderam a visão geral. São martelados com cada vez mais filmes novos. Simplesmente não sabem, estão perdidos no meio daquilo. Esqueceram o que é realmente ruim, que é a maior parte do que assistem.
E não vamos nem falar em televisão.
E como escritor...será que sou um? Bem. Como escritor, é difícil ler o que os outros escrevem. Não me bate. Pra começar, não sabem como colocar uma linha, um parágrafo. Só de olhar o texto impresso a distância já parece chato. E quando você realmente lê, é pior que chato. Não tem ritmo. Não tem nada de emocionante ou novo. Não tem jogo, fogo, gás. O que estão fazendo? Parece ser trabalho pesado. Não se admira que a maioria dos escritores diga que escrever é doloroso. Eu entendo isso.
Algumas vezes com meu texto, quando não foi extraordinário, tentei outras coisas. Derramei vinho nas páginas, acendi um fósforo e queimei buracos nelas. “O que você esta FAZENDO aí? Sinto cheiro de fumaça!”
“Tudo bem, querida, está tudo bem...”
Uma vez, meu cesto de lixo pegou fogo e o levei correndo para a varanda e derramei cerveja nele.
Para eu escrever, gosto de assistir a lutas de boxe, ver como o jab é usado, o direto de direita, o gancho de esquerda, o uppercut, o counter punch. Gosto de vê-los lutar, sair da tela. Existe algo a ser aprendido, algo a ser aplicado à arte de escrever, à maneira de escrever. Você só tem uma chance, que logo desaparece. Só sobram páginas, e você pode queimá-las, se quiser.
Música clássica, charutos, o computador faz o texto dançar, gritar, rir. O pesadelo da vida também ajuda.
Todos os dias, quando entro no hipódromo, sei que estou mandando minhas horas à merda. Mas ainda tenho a noite. O que os outros escritores fazem? Ficam na frente do espelho e examinam os lóbulos da orelha? E então escrevem sobre eles. Ou sobre suas mães. Ou como Salvar o Mundo. Bem, podiam me poupar não escrevendo esse troço chato. Essa bobagem sem energia e murcha. Pare! Pare! Pare! Preciso ler alguma coisa. Será que não há nada pra ler? Acho que não. Se você achar, me conte. Não, não faça isso. Eu sei: você escreveu. Esquece. Vai dar uma cagada.
Lembro de uma carta longa e furiosa que recebi um dia de um cara que me disse que eu não tinha o direito de dizer que não gostava de Shakespeare. Muitos jovens iam acreditar em mim e não se dariam ao trabalho de ler Shakespeare. Eu não tinha o direito de tomar essa posição. E assim por diante. Não respondi na época. Mas vou responder agora.
Vá se foder, colega. E eu não gosto também de Tolstoi!

Pedro Grossi

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

De sangrar os ouvidos

A alcunha não é pequena. Florence Foster Jenkins é simplesmente a pior cantora de todos os tempos. A fama surgiu nos anos 40. Florence fazia um recital anual no Hotel Ritz e chegou a lotar o Carnegie Hall em uma histórica apresentação, aos 76 anos, um mês antes de sua morte. Sim, os ingressos para suas apresentações eram disputados ferozmente. Não era em busca de boa música que iam os espectadores, mas atrás de uma boa cota de gargalhadas. Conta-se que algumas pessoas tiveram de sair carregadas do Carnegie Hall passando mal, de rir.

Florence não era humorista, o fato é que ninguém nunca teve coragem de dizer como ela era ruim. E a mentira a fez feliz como a verdade jamais faria. Herdeira de banqueiro milionário, Foster Jenkins se considerava uma grande diva e consagrou a fantasia alada de 'anjo iluminado', que costumava usar em algumas apresentações.

Abaixo um worst of da soprano. É de fazer o Edson Cordeiro se revirar no túmulo.



Diva descansando a voz



Pedro Grossi

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Carro

Nunca liguei muito para carros e sou um verdadeiro néscio no assunto. Mas ultimamente tenho me voltado a essas latas. Mas carros, mesmo, não compensações contemporâneas para disfunções sexuais da meia idade.

Assistindo a “Vicky Cristina Barcelona” ou, lembrando de cabeça, às reprises do infame e hilário “Quanto Mais Idiota Melhor 2” e “Vanilla Sky”, só sou olhos para eles (minto quanto ao primeiro). Os vintages. Essas maravilhas sobre rodas que movimentam um mercado inundado por uma horda de aficionados asfalto afora.

O que são Civics, Corollas e Vectras comparados à beleza dos esportivos da segunda metade da década de 60 e início da seguinte? Uma trolha de lixo?

Uma breve volta no Google e encontro esta lista. Relação de 50 memoráveis participações automotoras no cinema. Com certeza não é a única do gênero espalhada por aí, mas é de encher olhos e bocas. Só pecaria por não citar, por motivos óbvios, a linhagem brazuca Malzoni/Puma.


Um dia.
Leonardo Rodrigues

sábado, 3 de janeiro de 2009

Cruzeiro - 88 anos

Nelson Rodrigues (Jornal dos Sports, 09 dezembro 1966) “Depois da vergonha e da frustração da Copa do Mundo, nenhum acontecimento teve a importância e a transcendência da vitória de anteontem. Por outro lado, não foi só a beleza da partida, ou seu dramatismo incomparável. É preciso destacar o nobre feito épico que torna inesquecível o feito do Cruzeiro. Não tenhamos medo de fazer a sóbria justiça: aí está, repito, o maior time do mundo.”

 O feito épico a que se refere o dramaturgo é o título brasileiro de 66. Um sonoro 6 a 2 em um Mineirão repleto e um 3 a 2 (de virada) em uma tempestuosa São Paulo, contrariando todos os prognósticos da imprensa nacional que apostava em um troco a altura do então melhor time do mundo. A vantagem de dois gols que os santistas abriram no primeiro tempo até fez crível a previsão, mas a virada não tardou. Como conta o craque Tostão, que ainda perdeu um pênalti antes de fazer um gol de falta naquela partida: “Se houvesse mais cinco minutos de jogo faríamos 6 x 2 de novo, tamanho descontrole emocional do Santos”. Aos que dizem que a conquista da Taça Brasil não vale como Campeonato Brasileiro, respondo: pormenores! Essa não é a questão. O ponto é que indiscutivelmente após o nascimento daquele time mágico o futebol mudou de eixo. O então torneio Roberto Gomes Pedrosa Rio-São Paulo virou Robertão e abraçou times mineiros, sulistas e nordestinos. Não dava mais pra ignorar a revolução iniciada em Minas. Nos limites do estado, a conquista, aliada ao surgimento do Mineirão um ano antes, representou uma nova era do futebol mineiro. Os dois times então mais populares da cidade assistiram a um crescimento estrondoso da torcida dos rivais celestes, capitaneada pelos lances geniais de Tostão, Evaldo e Dirceu Lopes. Foi ali também que nasceu a maneira cruzeirense de jogar futebol. Citando Tostão mais uma vez: “Enquanto os outros times eram prosa,o Cruzeiro era poesia”.

 A história, no entanto, começara 45 anos antes, nos arredores do Barro Preto. A representativa colônia italiana de Belo Horizonte marcou sua presença na cidade com a fundação da Sociedade Esportiva Palestra Itália. Forçado a mudar de nome por determinação do governo varguista, o clube chegou a se chamar Ipiranga. A intenção era buscar algo que representasse o país que tão bem acolhera aquele povo. Daí a sugestão do nome ser o mesmo do rio que sediou o célebre grito de independência. Mas o batismo definitivo só viria depois de uma inspiração buscada no céu.  O Cruzeiro do Sul, cantado no hino e desenhado na bandeira nacional, foi também guia do italiano Américo Vespúcio em sua expedição rumo à descoberta da América. Aquele era o símbolo perfeito para representar a transcendente e eterna ligação entre os dois povos.

 Dez anos e dois vice-campeonatos brasileiros depois, veio a conquista da América. A geração era outra, mas igualmente espetacular. Nelinho, Palhinha, o forasteiro Jairzinho. A vitória sobre o River Plate, em um jogo no Chile, apresentou o Cruzeiro ao continente. O Boca ainda ganharia de forma polêmica um campeonato continental em cima do Cruzeiro antes que começasse o inferno astral dos anos 80. Na década de 90, o apetite voltou: duas Supercopas dos Campeões da América. A última delas, um épico 3 x 0 sobre o mesmo River. A busca do placar quase impossível (necessário para a conquista) desnorteou a passional imprensa argentina que deu ao time mineiro a alcunha de La Bestia Negra. O título continental só voltaria em 97, naquele chute benditamente torto do Elivelton.

 Pelo Brasil, o Cruzeiro continuava a desafiar os catedráticos da imprensa nacional com conquistas espetaculares da Copa do Brasil. Uma seguida da outra. Quatro, no total. O título brasileiro veio oficialmente só em 2003, mas da melhor forma possível. Um futebol de encher os olhos e as redes dos adversários, bem ao estilo cruzeirense de jogar.

 Algumas derrotas também merecem entrar na história do clube. A final do mundial de 76 contra o Bayern, de Beckenbauer e Gerd Müller, é considerada por muitos como o melhor jogo da história do Mineirão, mesmo em um empate sem gols. Na partida de volta, em uma gélida Munique sob neve, o time alemão venceu por dois a zero. O vice-campeonato brasileiro de 75 contra o Inter de Falcão e Figueroa, foi responsável por alguns dos melhores momentos que o futebol brasileiro já viu.

A tônica é essa. Em perdendo ou ganhando, sempre pela poesia. E que outros tantos belos momentos estejam por vir.

Pedro Grossi