sexta-feira, 5 de março de 2010

Verissimo, Ronaldinho e as velas

Luis Fernando Verissimo, após a derrota do Brasil para o México por 4 a 3, na final da Copa das Confederações de 99.

Mas pode somar 11.


Duas Velas

Como se não bastassem o Brasil, a Humanidade e a próstata, comecei a me preocupar com Vanderlei Luxemburgo. Está certo que era difícil resistir à oba-obaização do novo Ronaldinho depois daquele gol, mas colocá-lo em campo contra o México a dez minutos do final - e justamente quando o que o time menos precisava era alguém desobrigado de marcar, para dar espetáculo – mostra uma perigosa tendência do Luxemburgo a querer agradar a todo mundo.

Ronaldinho é o tipo do jogador que todo treinador quer ter no seu time, mas nenhum treinador quer ter no seu banco. No banco o jogador espetacular se transforma num foco de insatisfação e cobrança. Se o treinador não escala, é burro e se só bota em campo durante o jogo, é incoerente. Resistir aos pedidos da torcida e da imprensa, que sempre preferem o sensacional ao sensato, ou confundem o sensacional com o sensato, pode ser uma prova de caráter mas também um indício de vocação suicida num treinador. Não resistir e escalar sempre o preferido do momento é um sinal de fraqueza que também leva a carreiras a curtas. Mas pior é fazer o que o Luxemburgo fez, quando substituiu um centroavante por um zagueiro, para segurar o México, e como consolo botou o Ronaldinho das manchetes para fazer nada em campo. Acendeu uma vela ao diabo e outra ao Galvão Bueno.

Nada melhor para promover o futebol do que o jogador-exceção, com sua promessa sempre latente de mágica, do nunca visto. É o que leva aos estádios até a legendária grã-fina do Nelson Rodrigues, a que queria saber quem era a bola. Mas é preciso que o oba-oba contagiante não contagie uma pessoa: o técnico da seleção. Este deve ser uma espécie de Savonarola, fanático das suas próprias convicções e inimigo das frivolidades deste mundo.