terça-feira, 26 de agosto de 2008

Política esportiva?


Acabaram as Olimpíadas. O ramerrão ufanista e patriótico agora dá lugar a discursos engajados com soluções revolucionárias para sanar a tal falta de política esportiva no Brasil e transformar o país em uma potência olímpica. Nosso complexo de vira-lata não admite que fiquemos atrás da marofada Jamaica ou que disputemos palmo a palmo posições no ranking com países como Etiópia e Geórgia. O detalhe é que terminamos a frente da Finlândia, da Noruega e da Dinamarca. Será mesmo que a qualidade de um país se mede pelo número de medalhas de ouro? Basta ver como a campeã China trata seu povo.

Claro que foi frustrante ver o futebol feminino perder sua segunda final olímpica para os EUA e foi de marejar os olhos a volta por cima da Mari e do José Roberto Guimarães. Mas a disputa olímpica não pode ser superestimada; é apenas um jogo. Emocionante, envolvente, bonito, mas um jogo. Em nome dele, não podemos fechar os olhos para o que a China faz com o Tibet há décadas, nem mobilizar uma força-tarefa para colocar o Brasil na rota das medalhas. Há questões mais urgentes, que não podem ser ofuscadas pelo brilho reluzente do ouro nem pela sincronia lampejante dos fogos de artifício.

O que falta no Brasil não é política esportiva, mas política assertiva. Aquela que de fato trabalhe para o interesse público e não na busca por ministérios e cargos de presidência em estatais. A função do esporte não é política, mas social. Não precisamos de uma fabriqueta de campeões para massagear nosso maltratado ego a cada 4 anos. Precisamos é dar uma alternativa àqueles que vêem no crime ou no tráfico a saída que o Estado não oferece. Esporte nas escolas, campeonatos nas comunidades e voilà! Indiretamente acabaremos formando os tais campeões olímpicos. Não há necessidade de gastar verbas públicas para treinar superatletas (papel que deve ser desempenhado pelos clubes com apoio da iniciativa privada); o dinheiro tem de ser usado para formar cidadãos.

As eventuais Olimpíadas no Rio em 2016 vão ser o auge da politicagem esportiva. Obras superfaturadas vão encantar os turistas enquanto o exército fecha temporariamente os morros e higieniza a cidade. O carnavalesco do momento vai fazer uma deslumbrante cerimônia de abertura, que vai concentrar os olhares do mundo. Enquanto isso, a China, o morro do Cruzeiro e a Geórgia, darão fins menos nobres aos ‘fogos de artifício’.



Pedro Grossi

5 comentários:

JOÃO RENATO disse...

brasileiro gosta de festa e de bagunça. Pode não ganhar uma medalha de latão numa eventual olimpiada no rio que vai se dar por satisfeito de ver os gringos bebados de caipireenha e cheios de fejowada.

Filipe Abreu disse...

Foi preciso Pedro. O Brasil precisa de uma ampla política esportiva, que alcançe todas as classes sociais. Só assim nos tornaremos uma potência olímpica.

Exemplos não faltam. Os USA têm a melhor infra-estrutura do mundo para esportes, e ela passa por escolas e universidades. O time B da natação americana tem "atletas" de 16, 17 anos, garotos do High School, que usando da estrutura dos colégios, nadam perto do recorde mundial. O time A é de universitários e alguns mais velhos.

A China investiu em esporte em todo país. Ainda investe. A idéia é que cada província do país tenha seu centro de excelência até 2009. Vão conseguir e provalvemente se manterão como potência nos próximos anos.

Anônimo disse...

Como reza a cartilha, educação e política esportiva andam de mãos dadas. Com a primeira à mingua, a segunda é tão palpável quanto os peitos da Edinanci.

Anônimo disse...

Certeiro. Há muito que o esporte olímpico vem sendo usado para afirmar supremacias, desde a raça ariana até a infalibilidade de capitalistas e comunistas. Mas, como qualquer coisa, não pode passar por cima do palavrão econômico-político-social. De que adianta uma China devastadora no esporte e nos campos de fuzilamento? Uma medalha ou uma derrota de um atleta da Geórgia é sua, nada mais.

Alexei Fausto disse...

É muito fácil, se compara os gastos neste ciclo olímpico e o número de medalhas conquistadas, se fala do irrisório número de finais (38 de 100) que os brasileiros atingiram.

Porém, não se lembra do Badminton (que só tem chineses), na geórgia tínhamos duas duplas de praia brasileiras, e tantos outros esportes, como o ciclismo que necessitam de um grande investimento para praticá-lo, e tem MUITAS finais.

Enfim, no brasil se fala do social, mas no fim, só quer saber de reclamar dos "amarelões" que "SÓ" chegaram na final e são, o quarto, o quinto, o décimo, o segundo melhor de suas categorias NO MUNDO.

Não basta, devemos seguir o modelo chinês, retirar as crianças aos 4 ou 5 anos da casa dos pais para, a partir de então, treinar todos os dias do ano até chegar a uma final, que se perder será humilhado.

Pois, o "espírito olímpico" é ouro melhor que prata, prata menos pior que bronze, bronze menos pior que o resto.