domingo, 2 de novembro de 2008

História feita

Vejo Fórmula 1 desde quando Bush pai e Saddam eram amigos. E confesso, nunca vi nada como hoje. Nada. Nunca vi uma decisão dessas. Nunca me senti tão inconfortável nem demorei tanto para digerir um resultado.

Parece mais que os demônios da F1 fizeram questão de roteirizar o tipicamente irroteirizável.

Após um belo (é gosto dizer) campeonato, criaram um script de drama complexo, capiciosamente emocionante, e que envolveu, além dos protagonistas de praxe, uma gama de improváveis personagens.

Na prova, quando o previsível se acomodou, a exemplo da Bélgica, a garoa paulistana - tipicamente "chuva" nos domínios de Interlagos - caiu no momento mais crucial que poderia, bem nos giros finais.

No segundo aguaceiro da tarde, um Hamilton quase irreconhecível deixava escapar entre os dedos, no embate com Vettel, um título mais uma vez sacramentado. Incrível.

Ao fechar em quarto, o mancebo alemão, espetacular, foi de novo brilhante, pela última vez a bordo de sua Toro Rosso (uma ex-Minardi, frise-se). Deixou o inglês no encalço, ensadecido na última volta. Nunca vibrei tanto com uma ultrapassagem.

O outro tudesco, Glock, calçado para o seco, pouco tinha a fazer a não ser ceder ao ataque da dupla. Mas tinha que ser na última curva? Custava tracionar e dobrar o Café? Apenas isso, deixando o entrevero para um já inútil S do Senna?

Lewis levou e Massa ganhou, pela segunda vez no Brasil (igualando a trinca de campeões do País) e pela primeira, de fato, no molhado. Foi exemplar, correu com gana de campeão. Deu dó a chegada aos boxes. Mais dele do que da festa antecipada do QG familiar.

E é justamente essa perplexidade ante ao imponderável que faz dessa brincadeira tão especial e apaixonante. Só quem conhece sabe.

Passada a frustação de início, sinto-me privilegiado por ter assistido a mais um ano de treinos e corridas. Espero alimentar o vício por muito mais tempo. De preferência, até bem depois de Obama e Osama relevarem consoantes e apertarem as mãos.

Que 2009 chegue amanhã.


Leonardo Rodrigues

6 comentários:

Alexei Fausto disse...

Olhando tecnicamente, esse campeonato foi bem ruim.

Não pela divisão de vitórias, algo bem legal para a fórmula 1. Mas a maneira como essa variação aconteceu, em grande medida pela inconsistência de Hamilton e Massa, que erraram muito, e principalmente da Ferrari, que devolveu pra Mclaren o título do ano passado.

O piloto que conseguiu fazer mais com o equipamento que era o terceiro, depois o quarto e depois até o quinto ou sexto da temporada, foi o Kubica.

Lucas Soares Rodrigues disse...

Concordo que foi um belo campeonato. Tive o prazer de estar em Interlagos no sábado e no domingo, na reta oposta, bem na frente da linha branca que cortava o asfalto.

Uma corrida que já começou emocionante, começando a chover 1 minuto antes da volta de apresentação. Atraso de 10 minutos.

Tensão. Largada. Massa na frente e Hamilton em quarto. Até que começam a mudar pros pneus secos, e Hamilton chega a ficar em sexto, sétimo neste momento. Poderia acabar a história aí, mesmo.

Volta para quarto e a corrida segue sem grandes emoções até a antepenúltima volta. Lá de longe, no alto à direita do meu campo de visão, vejo o habilidoso Vettel passando o inglês. O autódromo acorda de repente em euforia.

Mais 2 voltas. Massa cruza em primeiro!!! Campeão?? Pergunto ao senhor com a camisa do Inter com radio no ouvido. Ninguém percebeu que, no mesmo locar em que Hamilton foi ultrapassado pelo Vettel, ele passou outro alemão... Glock, com pneus secos.

"Não... ele ficou em quinto! Não estou entendendo."
A explosão do autódromo implodiu, em poucos segundos.
Sorte não poder ver o pódio, para não chorar.
Veio a chuva forte logo após o fim. A natureza ficou brava com o resultado.

Massa é o vencedor, mas não levou. Fica pra 2009 e outros anos. Mostrou que pilota muito.

Porém, mais importante do que isso, mostrou a garra de um brasileiro. Fez milhões de pessoas voltarem a sentir aquele gostinho especial dos domingos com Senna!
Parabéns ao inglês, mas, sobretudo, parabéns à FELIPE MASSA DO BRASIL!!!!

Pedro Grossi disse...

Like tears in the rain... (essa foi ótima, Leo)
Acho que a renovação da Fórmula 1 e o alto nível dos novos pilotos já é fato a ser comemorado. A tendência é que o campeonato só melhore daqui pra frente.

Acho que o Hamilton até mereceu (não por essa última corrida), mas que foi de apertar o coração, foi.

Filipe Abreu disse...

Dá gosto ler seus textos de F-1 Léo. E concordo em tudo o q vc escreveu.

Tbem bato na tecla q o Pedro bateu: apertou o coração, mas o Hamilton mereceu.

Foi mto emocionante, as pessoas comemorando no trabalho como se fosse Copa do Mundo - e depois lamentando como se tívessemos perdido o Mundial.

Que venha msm 2009.

Filipe Abreu disse...

Dá gosto ler seus textos de F-1 Léo. E concordo em tudo o q vc escreveu.

Tbem bato na tecla q o Pedro bateu: apertou o coração, mas o Hamilton mereceu.

Foi mto emocionante, as pessoas comemorando no trabalho como se fosse Copa do Mundo - e depois lamentando como se tívessemos perdido o Mundial.

Que venha msm 2009.

Bee-a disse...

Léo,

espero que um dia vc tome o lugar do galvão bueno. =P

a corrida foi mesmo muito emocionante... e a sua narração também, rsrsr!