quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Por que futebol?


Vinte e dois e uma bola. É quase ultrajante de tão simples. E quase quântico de tão complexo. A alegoria, sublimação, da guerra. Não do bem contra o mau, mas do bem e do mau contra a mediocridade da vida, dos nós de gravata dados a contragosto, do engarrafamento nosso de cada dia, das risadas enlatadas e dos choros entubados. Do sentimento programado e da emoção corporativa. O momento de êxtase, uma visita às origens do instinto, da racionalidade zero e da paixão em estado de arte. O yin-yang das massas.

Amigos forjados pelas cores da camisa e não pela justeza do caráter ou nobreza das idéias comuns assistem à batalha campal. Pouco podem fazer se não entregar sua alma àquele ideal. E elevá-la aos céus ou rebaixá-la às profundezas em questão de segundos. Em qualquer caso, no entanto, já se fez o bem de tirar o espírito da fria zona cinzenta da rotina. Condicionar sua felicidade à imprevisibilidade do jogo. Não a felicidade de verdade, mas a subfelicidade, equivalente sentimental do subconsciente. A felicidade instintiva e irracional de ver vinte e dois e uma bola e as possibilidades infinitas que essa premissa traz.

Se fosse uma música seria Jazz e se fosse arte seria Teatro. Porque é escrito ali, diante dos olhos, com enredos intrincados ou diretos, com os fracos ganhando dos fortes, os fortes ganhando dos fracos, sem politicamente corretismos, sem didatismos, sem logicismos. É onde, ainda que por um breve lampejo, se vê a vida acontecer.

Por isso, futebol.


Pedro Bial... ops, Grossi

6 comentários:

Anônimo disse...

Concordo plenamente. Inclusive foi mais ou menos a resposta que dei à uma tal de Ana Amélia na faculdade. Com menos colorido, óbvio. Mas não só o futebol é assim, a vida se resume a isso. Colocar o piu-piu na caixinha; arrumar a internet depois de alguns dias de problemas; ver uma criancinha correr na sua direção - essas coisas que nos alegram, a vida é sem sentido mesmo, a mania que temos de racionalizá-la é que é o problema.

Anônimo disse...

Bola. Bola faceira. Bola que rola, que baila, que brinca e fustiga sobre o palco verde e iluminado dos gramados. Orbita ao redor de pernas. A dança é sinuosa, imita a vida, imita a...


Porra, cadê minha picanha?

Higiene Mental disse...

E Itabira é apenas um retrato na parede... tenho só duas mãos e o peso do mundo

Alexei Fausto disse...

dizem que o futebol é o ópio do povo.

eu diria que quem diz isso nunca viveu uma partida de futebol.

Filipe Abreu disse...

Concordo plenamente com o Alexei Fausto, perfeito o comentário.

Não há nada mais fascinante, apaixonante, divertido em esporte do que uma partida de futebol. Nada melhor do que o momento do Gol.

Heloísa Mendonça disse...

Aii pedrito vc tá virando o poeta :)