sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Fuck the beauty contests


Estar desempregado tem algumas vantagens. Em plena quinta-feira à tarde comprei uma bandeja de danoninho e aluguei um filme que há muito queria assistir: "Little Miss Sunshine". Aliás, o tal do "little" danone é uma coisa que tinha tudo pra ser ruim, mas que é bom pra cacete. Felizmente, esse queijo sabor morango ganhou o simpático e mais convidativo nome de queijo petit suisse. Agora, voltando ao filme: O convívio insuportável dos Hoover, família que protagoniza a película, me lembrou as situações vividas pelos Burnham de "Beleza Americana". Se o filme de Sam Mendes destacava em sua fotografia tons de vermelho contrastando com tons de azul claro para demonstrar uma paixão e um sentimento de vida reprimidos e prestes a explodir dentro de um ambiente frio e aparentemente controlado, em "Little Miss Sunshine", de Jonattan Dayton e Valerie Faris, o amarelo escorre pela tela. Em uma analogia escatológica: em um filme a ferida sangra enquanto em outro ela está infeccionada com pus. Em ambos os casos, porém, a deterioração familiar serve como estopim para uma viagem em busca do auto-conhecimento e, por que não dizer, da famigerada felicidade.

Cruzando os Estados Unidos em uma kombi para inscrever a pequena Olive um um concurso infantil de beleza, a família Hoover, confinada dentro do carro, é forçada a um relacionamento constante e intenso. Cada membro do clã tem suas próprias ambições e frustrações e é obrigado a conviver com as falhas e defeitos uns dos outros: Richard, o patriarca, é um mal-sucedido motivador (ou seja lá qual nome têm essas pessoas estilo Antônio Roberto) que não admite derrotas ou falhas (“Magnólia” e “Réquiem para um sonho” são dois outros filmes que também mostram essas palestras de auto-ajuda como acobertadores de personalidades depressivas e deprimentes); Dewey é um adolescente blasé que preferiu fazer voto de silêncio a encarar as esquisitices alheias e até a própria; Frank é um intelectual especialista em Proust que tentou se matar depois de um amor não-correspondido; o avô é um viciado em cocaína insatisfeito com a própria história de vida e que falha na tentaiva de odiar sua família; Olive é uma menina precoce (no bom sentido) que busca realizar o sonho de ser uma miss infantil e Sheryl é uma mãe tentando unir todas essas atas soltas para criar um esboço de família. No entanto, por mais falidos que sejam os Hoover, todos fazem concessões para tentar realizar o sonho da pequena Olive e dão o primeiro passo para a redenção. É só quando são derrotados, seja na descoberta que Dewey faz de que não pode realizar seu sonho de pilotar aviões, seja no não reconhecimento do trabalho intelectual de Frank, no insucesso de Richard em vender seu programa motivacional ou na apresentação hilária e comovente que Olive faz durante o concurso de beleza infantil, que se descobrem cúmplices de uma mesma história. Ao perceberem que a melhor auto-ajuda é a ‘outrem’- ajuda, eles passam a viver não sob a ditadura da beleza e do sucesso, mas saboreando cada momento da vida em detrimento dos ‘concursos de beleza’ a que somos constantemente submetidos.

Um antológico exemplar da boa e velha (sétima) arte de contar uma simples e grandiosa história. Simplesmente acachapante!


Pedro Grossi




quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Riposi in pace, Luciano



Hoje o mundo se tornou um lugar menor.



Leonardo Rodrigues