domingo, 8 de fevereiro de 2009

William Hugh Nelson

Johnny Cash não foi o primeiro cabra caipira a dar novas cores a velhos retratos em tom de sépia da música pop. Em 78, já como estátua do gênero, Willie Nelson arriscou ao experimentar a reunião de clássicos do popular americano em covers que nada tinham de afronta às normas vigentes (talvez, apenas, pelo chapéu).

O inusitado de “Stardust” transformou o filho do Texas em herói nacional e confirmou a boa fase comercial atravessada desde o arrombo de “Red Headed Stranger”, de 75. O sucesso foi ainda mais vultoso, despertando um interesse massivo e praticamente inédito pelo country.

Cai como uma luva o repertório de standarts ao vocal ligeiramente jazzístico e asperamente romântico de Nelson. Neste que é outro dos pedaços de plástico a tradicionalmente praticar rotações sobre o Gradiente DD-100Q de casa. No ano passado, recebeu generosa edição “Legacy” de trigésimo aniversário, com o dobro de versões. Naturalmente, ainda inédita por nossas priscas e nada diligentes pampas.


Stardust

Georgia On My Mind

September Song

Someone To Watch Over Me


Leonardo Rodrigues

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O Dilema Salgado

A matéria publicada no Globo de hoje (reproduzida abaixo) trouxe à tona uma questão que já me tirou o sono, mas para a qual não consegui nenhuma conclusão. Até que ponto é legítima a exploração da miséria alheia a la Sebastião Salgado?

Em 1994, o fotógrafo sulafricano, Kevin Carter, vencedor do prêmio pulitzer de fotografia, se matou enfiando uma mangueira de gás na cabine de sua caminhonete anos depois da famosa foto de uma menina sudanesa sendo espreitada por um abutre. Ele, que por anos trabalhou na cobertura da guerra civil na África do Sul, não suportava a idéia de ter feito fama às custas da miséria humana.

Indianos fazem protesto contra filme
Moradores de favela criticam título e retrato da pobreza de ‘Slumdog Millionaire’

Dezenas de moradores de uma favela de Bombaim, onde “Slumdog Millionaire” foi parcialmente filmado, protestaram ontem contra o filme, gritando insultos e golpeando com chinelos fotografias do elenco e da equipe. O sucesso internacional do filme provocou reações na Índia, motivadas por seu título, que foi considerado ofensivo por alguns moradores da favela (Slumdog em inglês, siginifica “Cachorro da favela”), e pela maneira como foi retratada a vida de indianos pobres.
- Eles fizeram uma gozação da gente, feriram nossos sentimentos – disse N.R. Paul, um dos líderes da manifestação e morador de Dharavi, a maior favela da Ásia.

O filme, que ganhou diversos prêmios internacionais e tem dez indicações ao Oscar, foi lançado na Índia no mês passado. O diretor, Danny Boyle, enfrentou acusações por parte da mídia da Índia de que o filme era um “pornô da pobreza”. Boyle disse que estava tentando captar a “cobiça pela vida” de Bombaim.

“Moradores das favelas são seres humanos, não cachorros”, dizia um pôster.

- Deveriam mudar o título. Por que nosso censor permitiu um título como esse na Índia? – disse Kallubhal Quareshi, habitante de Dharavi.

Manifestante pede melhorias na favela

Os manifestantes, que diziam que o retrato do filme sobre a pobreza era humilhante para milhões de pessoas, gritavam “Abaixo, abaixo Danny Boyle” e “Abaixo, abaixo o censor”. Nicholas Almeida, morador da favela, entrou com uma queixa num tribunal local contra o título e disse que a produção do filme também tinha responsabilidade sobre as favelas nas quais eles filmaram.

- O filme está fazendo muitos milhões de dólares. Por que não podem gastar algum dinheiro aqui para melhorar nossas vidas? – disse Almeida. Boyle e o produtor Christian Colson, respondendo a comentários recentes do “Daily Telegraph” de que crianças da favela foram mal remuneradas, disseram que pagaram sua educação numa escola e criaram um fundo para cobrir outras despesas.

 Foto que trouxe fama e tormento para Kevin Carter

Pedro Grossi

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

It is written

Uma inacreditável história contada em flashbacks em que o protagonista, tentando contrariar o destino, sai errante em busca do amor da infância, que parece determinado a não se concretizar. A sucessão de acasos que por tanto tempo os afastaram um do outro acaba promovendo o reencontro, selando um destino, que agora, parece inevitável. Não se trata do tempo em marcha à ré de Benjamin Button (aliás, ótimo filme, que ainda quero comentar aqui), mas de Jamal Malik, personagem de seu concorrente direto, e - a julgar pelo prêmio dado pelo Sindicato dos Diretores de Hollywood -favorito, ao Oscar de melhor filme: Slumdog Millionaire.

O filme conta a história de um indiano ‘favelado’ que participa do famoso programa de TV “Who wants to be a millionaire”. Sem estudos, o jovem de 18 anos chega à inédita quantia de 10 milhões de rúpias (R$ 500 mil, aproximadamente) respondendo a perguntas de conhecimentos gerais. O bom desempenho do garoto levanta suspeitas e ele é levado para ‘prestar esclarecimentos’ a inspetores policiais, antes de responder a última pergunta, de 20 milhões de rúpias. O ponto de partida da narrativa é o jovem Jamal Malik sendo torturado por policiais para que ele esclareça qual a forma de trapaça. Alegando inocência, Jamal relembra momentos da sua vida até aquele instante, explicando de que forma foi acumulando as informações que acabariam sendo úteis para a sua participação no programa.

O mérito do roteirista Simon Beaufoy, que já havia sido indicado ao Oscar em 1997 por “Ou tudo ou Nada” – The full Monty -, foi criar uma teia de acontecimentos fluída sem fazer um filme episódico ou de esquetes desconexas. Baseada no romance Q&A (Questions and Answers) de Vikas Swarup, a história se desenrola à medida que Jamal vai reconstruindo sua vida em flashbacks para justificar seus acertos no game televisivo. E aqui entra a dúvida machadiana: tudo é fruto da cabeça de Jamal. Até que ponto as coisas aconteceram realmente da forma como ele descreve?

A metáfora do acaso, ou destino, e da falta de controle que temos sobre os rumos da própria vida é perfeitamente representada pelo jogo de televisão. Jamal não é um gênio ou, até onde sabemos, um trapaceiro. Por ‘estar escrito’ que seria assim ele foi desafiado apenas com perguntas as quais sabia as respostas. E há uma cena emblemática a respeito. Numa das primeiras perguntas, considerada fácil, o jovem pede ajuda à platéia. Revendo o vídeo na sala de interrogatório, o inspetor argumenta que qualquer criança de cinco anos saberia a resposta. O contra-argumento do jovem é direto: “o senhor sabe o preço do prato típico da vila onde nasci? Diante da negativa do inquisidor, ele completa: “Qualquer criança de cinco anos da minha comunidade saberia responder”.

Cada uma das perguntas do Quiz remete a um episódio da vida de Jamal, cronologicamente da infância à juventude. Da sua relação conturbada com o seu irmão mais velho, Samir, e da busca incessante pelo amor de sua vida, Latika. Os personagens crescem na periferia de uma violenta Mumbai (e aqui há alguns momentos que remetem a filmes como Cidade de Deus, com uma violência extremada já incorporada ao cotidiano das pessoas e as cenas rápidas e nervosas em vielas e becos que retratam uma miséria absoluta) que se desenvolve “para se tornar o centro do planeta”, como diz um dos personagens, mantendo a desigualdade típica de países do terceiro-mundo. Mas o cineasta inglês Danny Boyle (diretor de “Trainspotting” e “A Praia”) abandona a crítica social para dizer, por meio da história do jovem indiano, que por mais que sejamos reféns do destino ou do acaso, o rumo das nossas vidas depende, primordialmente, das nossas escolhas.




Pedro Grossi

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Alexandra Elene Maclean Denny

Sandy Denny pode ser enquadrada na mais funesta categoria de ídolo esquecido. Letrada em Dylan e no domínio público bretão, ela fez do violão seu fortim e, com um registro agridoce, ajudou a maquinar a concepção inglesa e cinza do folk (rock) norte-americano.

Morreu em 1978, vítima de tumor no cérebro, depois de cair do alto da escada na casa dos pais. Um mês depois. O incidente nunca foi muito bem esclarecido. Pelos dez anos passados, entre bandas, projetos e carreira-solo, fez honrar o título de maior cantora do gênero no Reino Unido.

A estação de hoje vai à base de quatro canções da moça. A primeira, o belo momento solo às cordas gravado na Dinamarca, junto aos Strawbs. A terceira e a segunda, com o Fairport Convention, extraídas do primoroso “Unhalfbricking”. E a última, com o Fotheringay.


Sandy Denny and The Strawbs - Who Knows Where the Time Goes?

Fairport Convention - Genesis Hall

Fairport Convention - Autopsy

Fotheringay - Winter Winds

Leonardo Rodrigues