segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Que venham os próximos 10

A década acabou e os dedos coçam pra escrever sentenças definitivas que em pouco tempo vão soar como grandes tolices. A falta de personalidade dos últimos dez anos é tanta que até hoje não sei como chamar o período: década de 00’s? Década de 2000? Enfim, no ócio nem tão criativo de um plantão compulsório de fim de ano lanço minhas bobagens definitivistas.

Musicalmente acho que os anos 00’s (pelo menos na escrita, essa terminologia soa menos estranha) foram uma incógnita kitsch. A cada período de três anos uma década voltou em revival. Da breguice dos anos 80 à crueza do rock setentista, passando pelo soul/jazz dos anos 60. No Brasil, mais do mesmo. Nada de muito original a não ser sangue novo em algumas vertentes do jazz/samba nacional e uma ou outra banda independente com um pouco mais de talento e criatividade. No maisntream, o Emocore chegou e já foi – sem deixar saudades – deixando como legado um grupelho de bandas quase irrelevantes e punhados de adolescentes com cabelo de chapinha e ar tristonho. A morte anunciada dos intermediadores da produção musical (gravadoras) e do suporte físico das músicas (CDs) fez voltar à moda as grandes turnês de encher estádios. Mas um desses megahows acabou de véspera. O maior artista pop de todos os tempos, quem praticamente cunhou o conceito de megashow, como espetáculo visual e sonoro, morreu antes da última performance.

No cinema, a década das trilogias e septo (octo)logias consolidou a febre das adaptações. Grandes histórias infanto-juvenis de fantasia se tornaram tecnicamente viáveis e comercialmente irresistíveis. Bruxos, elfos e vampiros renderam filmes que arrebataram plateias e garantiram lucros astronômicos aos estúdios, que chegaram a estar temerosos com a popularização dos DVDs, hometeathers e torrents. (Bons) Roteiros originais se tornaram raridade e a não-valorização dessa profissão rendeu uma greve da categoria. Atrasos nos lançamentos e milhões de dólares de prejuízos. A Indústria não demorou a se recuperar. Pela primeira vez na história, o mercado americano de cinema bateu, em 2009, a barreira dos US$ 10 bi. No apagar das luzes de 00’s, uma tecnologia aperfeiçoada ao ponto de garantir a hegemonia do cinema sobre as mídias ‘caseiras’: o 3D, que pode fazer com que James Cameron conquiste o recorde de bilheteria de... James Cameron.

Enquanto a TV aberta se rendeu aos apelos fáceis dos reality shows, a TV fechada deu um grande salto de qualidade. Os sitcoms deram lugar a séries caras e extremamente bem produzidas. Sopranos, Damages, House e Lost decretaram uma nova era de excelência na TV americana, quando prognósticos errados desaconselhavam grandes investimentos em dramaturgia, já que a fidelidade aos canais de TV tendia – e tende - a diminuir.

Na esfera digamos ‘social’, o mundo se voltou para a virtualidade. As redes sociais determinaram uma nova maneira de interação. Muitos contatos, poucos amigos. A informação foi horizontalizada e fragmentada ao máximo de 160 caracteres. Tudo virou pílula. Estímulo. O lugar em que tudo pode ser dito anonimamente. E impunemente. Uma faca com vários ‘legumes’. Mas são apenas breves ilações anti-tédio. Até a década de 10 (?) tudo isso já será página virada. Ou arquivo morto, como queiram.


Pedro Grossi

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Bom velhinho, bom filho

Meses atrás falei sobre o retorno de Schumacher no lugar de Massa - planos frustrados por problemas físicos. Pois bem, hoje caiu a “bomba”. A confirmação do que todos já sabiam: ele voltou. Foi apresentado pela nova Brawn, a Mercedes, montadora diretamente envolvida em sua estreia na Fórmula 1, na Jordan, em 91. Assinou por três temporadas.

Falem o que quiser. Após três anos de aposentadoria arrependida, o cara pode. Button, desgostoso com o que pediu e não recebeu para renovar com a equipe, falou sobre risco de reputação. Despeito. Nem se, num momento “meu novo companheiro de equipe”, Schumy saísse nu pelas ruas de Berlin cantando “I Am What I Am”, seu nome seria tisnado.

Ele está tirando espaço dos mais jovens com a brincadeira, diriam alguns. Pode ser. Mas, sinceramente, em uma temporada de 26 carros, a mais povoada em 15 anos, você prefere um pagante genérico, uma promessa padrão, um filho de campeão, ou um fora de série consagrado? Fico com a última alternativa. Ecclestone, com certeza, também. Se o chefe da FOM não está sorrindo de orelha a orelha, tem a segurança de que a temporada promete, e na linguagem que ele conhece tão bem, a das cifras.

Prestes a completar 41, o alemão será o chamariz e vai se divertir com os velhos amigos, estejam certos. É um ano que tem tudo para ser divertido. Teremos o fim do reabastecimento e a promessa de mais brigas na pista e treinos mais interessantes. Ou seja, menos tática e mais corrida. Teremos também Alonso na Ferrari, a reencarnação da Lotus, a estreia de outras três equipes, do primeiro-sobrinho, dos bons Di Grassi e Hülkenberg. E, quem sabe, a chance de ver enfim um japonês competitivo (será, Kobayashi?).

Como se não bastasse tudo isso, não me lembro de ter contado tantos postulantes a um título. Além do hepta que, sim, correrá para ser campeão, mais cinco pilotos têm condições de levar (dois pela primeira vez), caso tenham carro: Button, Hamilton, Massa, Alonso e Vettel. E poderiam ser seis, com Kimi, limado na dança dos cockpits. Não permanentemente, espero.

Como escrevi aqui há pouco mais de um ano, que 2010 chegue amanhã.