quarta-feira, 25 de março de 2009

Radiohead

Pesquisa: Marcela Carrato

Estive hesitante sobre escrever esse texto. Um pouco pelo excesso de clichês e superlativos que ele inevitavelmente terá e um pouco por repetir o que provavelmente vem sendo dito ad infinitum. Mas como não tenho (sérias) pretensões literárias e essas linhas de insignificante ressonância vão servir basicamente pra que eu me releia em algum tempo e rememore situações que de alguma maneira me marcaram resolvi arriscar. Só mais uma pitada explicativa: o que acho legal em blogs é poder, com o distanciamento crítico que o tempo dá, ver como perdemos horas defendendo teses que não fazem sentido e como dedicamos esforços em cruzadas inócuas. Por outro lado, de que é feita a vida se não desses pequenos estandartes cotidianos que invariavelmente se perdem nos desvãos da história?

Por isso, nesse exato momento travo uma árdua batalha contra a preguiça e a falta de inspiração para me manifestar sobre um evento que, hoje, considero histórico: a primeira passagem do Radiohead pela América Latina. Geralmente as expressões ‘melhor de todos os tempos’, ‘divisor de águas’, ‘maior da história’ são aplicadas equivocadamente por pessoas de visão restrita que perderam a noção do todo. Algo como, tudo é tão mal feito que uma coisa minimamente bem produzida ganha alcunhas epopéicas. Não sei se é o caso. Talvez seja. Mas correndo o risco de cometer absurdos históricos vou fazer coro à multidão.

A chata abertura do Los Hermanos e o insosso show do Kraftwerk só serviram para minar a minha paciência e abalar a minha estrutura física. O fato é que quando o show do Radiohead começou eu já mal me aguentava em pé. Mas a profusão de cores e sons exigia tanto do meu cérebro que não sobrou muita potência mental para transmitir os sinais de dor aos meus nervos. Não sei se o visual do palco foi o mais espetacular da história da música mundial, mas, sem dúvida, foi o mais impressionante que eu já vi. Tubos pendurados refletiam os efeitos de cores que cada uma das 26 músicas do set list pedia. Dois telões, divididos em quatro partes, pegavam detalhes da execução da banda ao vivo. O resultado eram videoclipes, de altíssima qualidade, produzidos em tempo real (Seria esse um exemplo do tal vídeo dispositivo?), capturando momentos como Johnny Greenwood tocando teclado com o braço da guitarra ou um primeiríssimo plano dos olhos desalinhados do Thom Yorke.

Musicalmente a banda é absurdamente competente. É difícil rotular o Radiohead sem reduzir a importância do grupo. Seria muito dizer que a combinação de pegada rock com cadências minimalistas é sem precedentes, mas os resultados alcançados são bem originais. No palco, as canções ficam ainda melhores, e mesmo que o grupo não siga a fórmula introdução- refrão - solo - refrão, as canções ressoam na cabeça por dias a fio. Sem me delongar no set list (apenas registro a dobradinha Paranoid Android/capela do público/Fake Plastic Trees), finalizo aqui a missão particular de me colocar à prova do julgamento do tempo para dizer que foi, sim, um divisor de águas na história do showbusiness brasileiro.


Pedro Grossi





Paranoid Android

4 comentários:

JOÃO RENATO disse...

Kraftwerk foi legal, deixa de ser ranzinza

Pedro Grossi disse...

Nó, João, nem foi viu...
O Kraftwerk é tipo um Atari num universo de Wii's e PS's. É legalzinho e você respeita, mas não dá pra se divertir por mais de 10 minutos

leo disse...

Minha opinião é que uma pessoa que chora (ou chega às vias) vendo Iron Maiden nunca terá qualquer indício de discernimento para opinar sobre Kraftwerk (quiçá sobre todos os outros assuntos).

E em tempo:

http://www.youtube.com/watch?v=EYJICBRVNfY

Se é para cometer o erro banal de usar parâmetros de "show de rock" para medir "música eletrônica", só isto supera, com sequenciador nas costas, todas as apresentações da carreira dos losermanos e mais da metade do set torto do cabeça de rádio.

Pedro Grossi disse...

E esse foi um exemplo das 'cruzadas inócuas' a que eu me referi