sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Amor e ódio


De um lado um assunto que é sinônimo de passionalidade e de outro uma instituição que se alimenta de fatos; relatados, amplificados e, preferimos acreditar, em uma dimensão menor, inventados. Mais do que gols, passes e conquistas a imprensa esportiva, sobretudo a que trata o dia-a-dia do futebol, precisa também de polêmicas. É assim que o circo funciona e é isso que sustenta esse mercado de entretenimento. Exatamente por ser um mercado tão grande e lucrativo ele é rico em aparências, discursos prontos e lugares-comuns. Assim como na bolsa de valores, uma simples declaração mal dada pode significar prejuízos milionários ou ganhos inesperados. Por isso, é tudo tão medido e calculado.


Ações robotizadas e insossas não são exclusividade do mundo do futebol. Muito pelo contrário. São quase uma regra social. Quase. Nos últimos dias, Kléber provou que suas falas não são escritas por assessores de imprensa. Ele, de fato, fala o que pensa. O que não significa, e que fique claro desde já, que ele tenha razão em tudo o que diga. Significa, sim, que ele tem de arcar com as consequências do que fala. Ser autêntico não lhe dá imunidade. A sequência de episódios recentes envolvendo o jogador e o Cruzeiro mostra que ele é um cara, de fato, autêntico, mas também imaturo.

Como torcedor do Cruzeiro, não vejo o menor problema dele visitar, tirar fotos, beber e jogar pelada com torcedores adversários. Ainda que às vésperas de um jogo exatamente contra o time visitado. A imprensa, em busca de polêmica, amplificou o fato. A mesma imprensa que seguidamente bate na tecla da tolerância e cordialidade entre torcedores adversários. Não vejo problema, porque o Kléber que deve satisfações a nós, torcedores do Cruzeiro, é o jogador que entra em campo. O outro Kléber, o chamado ‘ser-humano’ - como se o que entra em campo fosse de outra espécie - tem o direito de fazer o que quiser. E foi o Kléber jogador, autêntico e verdadeiro, que, com o perdão do trocadilho, pisou na bola. Não porque tenha acenado para os torcedores adversários, mas porque declarou não aceitar as vaias dos torcedores do seu próprio time. Considerou desrespeito. As vaias não são desrespeito. Pessoalmente, as considero deselegantes, mas não desrespeitosas. São a maneira legítima que o torcedor/espectador/consumidor/cliente tem para se manifestar. Logicamente não é agradável para quem escuta, como não é agradável para o torcedor ver o time perder um jogo. Faz parte do pacote. Está dentro do ônus e do bônus de quem resolveu se envolver nesse meio.

É quando diz que não aceita as vaias que o Kléber mostra imaturidade. Elas não são para a sua esposa, sua família ou seus amigos. Não são para o ‘ser-humano’ Kléber, são para a interface a que o torcedor tem acesso. O profissional, o artista de circo, o ator, que existe unicamente em razão do seu público. E elas só acabam quando ele for capaz de apresentar um bom espetáculo. Grandes jogadores já foram vaiados, e deram a volta por cima.

É ótimo que ele fale o que pensa, mas é bom pensar antes de falar. Ser um grande jogador não é estar acima do bem e do mal. Como é mesmo a frase? Nem Ele agradou a todos...


Pedro Grossi

Um comentário:

leonardo rodrigues disse...

Como pessoa pública, Kléber foi extremamente infeliz na visita à Mancha Verde às vésperas da partida.

Mais infeliz foi a torcida, ao escorraçá-lo sem piedade no estádio, praticamente dando adeus ao jogador mais talensoso e que tende a deixar o elenco ainda mais debilitado.