domingo, 20 de julho de 2008

The Dark Knight


Um vilão psicótico. Uma bela mulher envolvida em um triângulo amoroso com o herói, de bela estampa e ironia refinada. Uma cidade dominada pelo crime e pela corrupção e uma população que, quando reunida, parece tremendamente estúpida. Essa poderia ser a descrição de um sem número de histórias e filmes de ação. Felizmente, The Dark Knight – que tem todos esses elementos – vai muito, mas muito além disso. O filme pega todos esses ingredientes e transforma em cinema da melhor qualidade.

Christopher Nolan dá à história uma aura de realidade. Sem ser histriônico impõe um tom de urgência em todas as cenas. Ficam claras as motivações de cada personagem. Mais do que lutar por uma causa maior, todos eles têm convicções pessoais e fazem escolhas. Têm vida própria. Não são reféns do roteiro. Por isso, tudo flui naturalmente. Por isso, não soa absurdo um homem vestido de morcego voando pela cidade. Por isso, mesmo conhecendo de cor e salteado os plots da trama, não sabemos para onde estamos sendo levados. Por isso, de bom grado, nos deixamos conduzir.

O Coringa criado por Heath Ledger não é um simples vilão. Em vez de ser a antítese do Batman é, muitas vezes, seu complemento. Não quer dominar o mundo ou ficar bilionário. Apenas se sente desafiado pela onipresença poderosa do ‘cavaleiro das trevas’. Dá à cidade o criminoso que ela merece. “É apenas uma cachorro correndo atrás de um carro. Alguém que quer ver o circo pegar fogo. Um agente do caos”. Está sempre um passo a frente, porque talvez compreenda como é previsível o comportamento humano. Sua presença em cena é incômoda e ameaçadora principalmente porque não se sabe exatamente o que ele busca, ao contrário do que diz o Batman em determinado momento do filme: ‘É fácil enfrentar os criminosos. É só saber o que eles querem’. Entre os dois há uma guerra de pontos de vista. Um está disposto a provar que a ‘loucura é como a gravidade: basta um empurrãozinho’ enquanto o outro acredita que apesar de idiota e mesquinha a humanidade pode ser imprevisível e dar mostras de grandeza. Coringa ‘perde’ a disputa exatamente por acreditar demais na previsibilidade, por desconsiderar que em meio a aridez e boçalidade pode surgir o singular, o imprevisível, o surpreendente. Lição que Christopher Nolan demonstra ter aprendido.

O filme foge do maquineísmo do bem contra o mal. Também escapa de se concentrar na dor psicológica que os heróis enfrentam por causa dos (super) poderes. Não cai na armadilha de abusar da pirotecnia dos efeitos especiais nem tenta contar uma história hermética e ‘cabeçuda’. Ele fica no ponto de equilíbrio de tudo isso. Acha uma personalidade própria em meio aos clichês do gênero. Agrada a gregos, troianos, romanos, espartanos... A quem vai atrás de entretenimento, só pra estimular algumas partes do cérebro e liberar hormônios, e a quem busca arte, para os quais o filme ainda reverbera na cabeça por dias a fio. Em uma palavra: definitivo.



Pedro Grossi

5 comentários:

Anônimo disse...

Sei que não entendo patavinas de cinema. Mas nunca andei lendo tanta babação em torno de uma trama de super-herói. E quando o confete é demais...

Ilha de carisma, Heath Ledger faz de tudo para salvar o filme. Quase consegue. Longo e cansativo, não me prendeu. Para fãs, ou para quem realmente se predispõe a tal. Não é o meu caso.

Premio Blog disse...

Vendo que gosta de assustos relacionados a mídia, pensei em convidar-te a ser um dos jurados do Premio Blog de TV e música hospedado em:

www.premioblog.blogspot.com

Se preferir visualize meu perfil e veja as categorias disponíveis no momento.

Desde já agradeço!

Fale conosco: premioblog@hotmail.com

JOÃO RENATO disse...

Um filme nota nove.
Este um ponto que ficou devendo, se deve à três falhas gravíssimas. A primeira é tempo. Num dado momento no cinema, me lembrei de outro filme do morcegão, "Batman Eternamente". Achei que o filme não ia mais acabar e ia, para sempre, morar na sala cinco do Cinemark. E porquê isso? Graças à segunda falha, a falta de clímax. Quero dizer, existem clímax no plural, o que deixa o espectador filme inteiro com a expectativa pelo fim, que podia ter vindo várias vezes: após a prisão do Coringa, após a morte da Rachel, após Bruce Wayne desistir de ser o Batman e deixar Harvey Dent ser preso em seu lugar. Não, o filme acaba depois de tudo isso, muito depois.
O terceiro problema é culpa do segundo. O clima de quebradeira total deixa de lado um dos aspectos mais legais da história do Batman: Bruce Wayne. São raras as cenas do milionário playboy esbanjador, e inexistentes os dilemas psicológicos do personagem. Quando o Coringa quer que Batman se revele para o público, uma cena que isto poderia ser explorado com facilidade, nosso raso Bruce Wayne se despede feliz e sorridente da fantasia preta, para, menos de 10 minutos depois, tirá-la da lixeira para salvar o promotor Harvey Dent. Que falta de palavra.

Filipe Abreu disse...

Discordo do João e do Léo. Pra mim, há clímax sim. Não há aquele único ponto que é o local onde todas as tramas se convergem. Mas é a escalada de acontecimentos, do crime, da ação do Coringa, que, pra mim, se constitui no clímax de The Dark Knight.

É longo mas eficaz. E acho que os 152 minutos de duração só colaboram para a sensação de desespero, anarquia, tensão e perdição que o filme tenta (e consegue) causar.

E Heath Ledger pode não ser Daniel Day Lewis (como já ouvi algumas pessoas, que não gostaram por demais da atuação dele dizerem por ai para justificar o desgosto), mas construiu O MAIOR VILÃO que os FILMES DE HERÓIS já viram no cinema (tá, eu sei que a galera aqui estudou na PUC e teve aula de JN Cultural da Geane e ela sempre diz pra não falar que foi o maior e pá, mas não dá pra não dizer).

Não sei se The Dark Knight será indicado ao Oscar de Melhor Filme. Ainda é cedo pra dizer e sinceramente acho que não vai. Mas a INDICAÇÃO póstuma de Ledger, essa creio que virá. Indicação. Ganhar já é difícil. Isso só aconteceu uma vez na história do Oscar. Mas repito: ainda é cedo pra dizer. Vai que ninguém consegue impressionar como ele?

Higiene Mental disse...

Como assim o Heath Ledger é o maior vilão de histórias de super-herói de todos os tempos??
E a fria atuação de Arnold Swchazenneger em Batman & Robin?