terça-feira, 8 de julho de 2008

O lugar-comum da violência

É difícil falar em violência sem cair nos clichês: Absurdo! Inaceitável! Barbárie!Mas não há opção. A banalização da violência levou à banalização do discurso. O que dizer do caso da criança de 3 anos que foi executada pela polícia? Meu limitado vocabulário não consegue ir além de absurdo, inaceitável e barbárie. Pra quem tomou a acertada decisão de evitar os noticiários policiais, os quais por obrigação profissional tenho de acompanhar diariamente, segue um resumo do que aconteceu domingo, 06/07, no Rio de Janeiro.

A visão da família: Uma mãe sai de uma festa de aniversário com seus dois filhos por volta das 19h. A poucos metros de casa vê um carro, um Fiat Stilo preto, em alta velocidade passar pela sua rua. Algum tempo depois, uma viatura policial, de portas abertas e com policiais armados com metralhadoras parece perseguir os bandidos. Para não obstruir a ação policial e para se ver o mais longe possível daquela situação a que os cariocas já estão se acostumando a presenciar, a mãe encosta o carro. De repente, barulhos de tiros. Os policiais começam a metralhar seu Pálio weekend cinza chumbo, com duas crianças dentro. Desesperada ela manda que os filhos se abaixem e corre para o frente do veículo tentando proteger a família. Em vão. Dos mais de quinze tiros disparados três atingem João Roberto Amaral, de 3 anos. Um deles na cabeça. Por sorte, nenhum tiro atingiu seu bebê de 8 meses.

A visão dos policiais: Um chamado no rádio avisa que assaltantes estão fugindo em um carro preto. No jogo de polícia e ladrão (está cada vez mais difícil saber quem é quem), policiais militares metralharam um carro quase preto (à noite todos os gatos são pardos) que cometeu o crime de estar na hora errada no lugar errado.

O secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame (que, aliás, é cliente da FSB, onde trabalho) disse que os policiais confundiram o Pálio Weekend da advogada Alessandra Amorim Soares com o Fiat Stilo dos bandidos em fuga e que o engano teria causado a tragédia. Não foi tragédia. Foi crime. Sem atenuantes e sem justificativas. Não foi a primeira vez e temo que também não seja a útlima. Há algumas semanas uma criança de 4 anos morreu vítima de bala perdida durante um tiroteio em morros cariocas. Daquela vez, pôde-se argumentar fatalidade já que a bala era ‘perdida’. No caso de domingo, no entanto, as balas foram endereçadas. Era pra matar quem quer que estivesse naquele carro.

De oficiais do exército em atitude de Pilatos que entregam jovens para serem executados por bandidos rivais a crianças baleadas na cabeça e arrastadas pelas ruas presas aos carros vamos nos matando. Da periferia ou da classe média. Mais um João se vai nessa terra de ninguém.


Pedro Grossi

3 comentários:

Anônimo disse...
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Anônimo disse...

Eu nao tenho nenhum comentario para esse caso "barbaro, absurdo e inaceitavel". Choro toda vez que vejo o menino da OMO vestido de Homem-Aranha e imagino que outro, que nem ele, estava trancado no caixaozinho branco.

Entao, perdoe meu humor negro como o carro da advogada, mas o que cai em pe e corre deitado? Isabella Nardoni e Joao Helio... tsc tsc

Alexei Fausto disse...

cada dia mais gente morre.