quarta-feira, 25 de abril de 2007

Mais um ídolo pra minha coleção


Duas guerras mundiais, duas revoluções comunistas, Guerra Fria, ditadura militar, ataques terroristas...Um século que deixou marcas. E elas estão todas lá: no tom de voz arrastado, no olhar cansado, na respiração ofegante, na memória que às vezes falha. Personagens e personalidades que pra nós só existem nas bibliotecas, foram seus companheiros de bar, de noitadas, de conversas animadas. Desses encontros nasceram idéias que foram literalmente concretizadas. Que o diga Pampulha e Brasília e suas curvas em concreto armado.
Não sei se por paciência ou fragilidade Niemeyer não se importou com o circo que estava sendo armado. Spots de luz agredindo suas cataratas, quatro câmeras, montes e montes de fios passando por cima de livros, de uma caixa de charutos cubanos dada pessoalmente por Fidel e de uma bandeira do MST. A pequena sala, que até hoje recebe diariamente a visita do arquiteto, em nada lembra as cúpulas gigantes e curvas sinuosas das suas obras mais famosas. Não fosse a espetacular vista da praia de Copacabana, seria um escritório como muitos outros. Além de tê-lo feito esperar por mais de 1 hora, chegamos ao cúmulo de pedir que trocasse de camisa, porque o branco que ele sempre usa não era bem reproduzido pelas nossas modernas câmeras digitais. A nova camisa preta o deixou menos confortável, mas agradou aos urubus que somos em uma espécie de luto antecipado. Quando enfim a conversa começou pude parar com o conflito interno que me fazia sentir ora como um invasor que vinha se aproveitar da senilidade alheia, ora como integrante de um projeto que vai deixar para posteridade um registro valioso. Comecei então a prestar atenção nas palavras pronunciadas quase como um sussurro. No meio das histórias surgiam nomes como Sartre, Fidel Castro, Corbusier, Darcy Ribeiro, Prestes. Todos companheiros da luta ideológica que começou quando se filiou ao partido comunista em 1935, fato que considera como o mais importante da sua vida. Mesmo sendo testemunha de um século sangrento, é alguém que ainda acredita na bondade do ser humano (e eu que mal comecei a me decepcionar com a humanidade já estou prestes a jogar a tolha) e na idéia de que podemos nos dar as mãos. Romântico e sonhador. Último exemplar de uma época em que os sonhos ainda eram possíveis, antes que, parafraseando Homer Simpson, o peso do mudo quebrasse nosso espírito. Na minha cabeça vai ficar gravada pra sempre a imagem do seu corpo frágil se arrastando pra mesa do almoço, com o Pão de Açúcar ao fundo, enquanto nós, urubus que somos, lambíamos o resultado de toda essa invasão pra deixar pra posteridade um valioso registro.



Pedro Grossi

9 comentários:

JOÃO RENATO disse...

faltou falar q vc chorou no final

Unknown disse...

ficou implícito

Alexei Fausto disse...

já fumei um charuto dado pelo Fidel!!

e então? quando sai o seu livro?

Anônimo disse...

eu já fumei o fidel.

Anônimo disse...

pedrão,
o texto ficou mto bom cara, mto bom mesmo.

Parabéns pelo programa.
E que venha o Francis Ford Coppola!

Unknown disse...

adorei, pedrão!
me deu uma vontade enorme de conhecer Niemeyer.
quero assistir a entrevista hein?

Guilherme Avila a.k.a RODO disse...

Pedrão,
simplesmente fodástico cara!
continue assim que vc vai dominar o mundo e eu vou ser amigo de alguém realmente famoso.

olavo walter disse...

Vc fumou o niemeyer?

Unknown disse...

Aeeeeeeee Pedrão! Concordo com a parada do "fique famoso e eu finalmente vou ser amigo de alguém famoso"!!