sexta-feira, 27 de abril de 2007

Todd quem?

Experimente jogar o nome na roda: “Todd quem?” Os mais catedráticos podem até arriscar que se trata daquele produtor viajandão do New York Dolls e do Grand Funk Railroad, do cara que tem uma música na trilha de Vanilla Sky, ou que o sujeito em questão é o “ex-pai” da musa Liv Tyler. Ao sul do Equador, pouquíssimos têm a noção exata da dimensão da obra de Todd Rundgren. Dissidente do garageiro The Nazz e multi-instrumentista, ele pertence àquela linhagem que é quase impossível classificar. Passeia por terrenos tão diluídos que qualquer rótulo diz muito pouco. Guardadas as proporções, uma espécie de Frank Zappa menos erudito e bem mais palatável.

Com a chegada da década de 70, suas inquietações o fizeram embrenhar pela carreira solo. Estreou com “Runt” para em seguida passar com louvor na prova de fogo do segundo trabalho, “Runt: The Ballad of Todd Rundgren”. No entanto, para crítica e fãs, o “crème de la crème” coincide com o maior êxito comercial: “Something/Anything?”, lançado em 1972. Que se faça justiça, é uma época tão pródiga na produção em escala industrial de pilares do rock/pop, que talvez explique, em parte, a posição incrustada entre tantos outros clássicos. Para tal, uma estratégia no mínimo ousada. Um LP duplo, deliberadamente pop, de quatro excertos independentes. O produto de uma mente que não só compõe, mas canta, produz e toca todos os instrumentos. A pragmática das enciclopédias musicais contextualizaria a empreitada como glam, hard rock, prog, art. Mas na real, não é nada disso. Ou quem sabe, tudo isso e mais um pouco.

Os dotes “singer-songwriter” de Todd irrompem logo na abertura, sem pudores de pieguices comercias. Belíssimos arranjos e melodias ao piano compõem a faceta na qual ele parece sentir-se mais a vontade. Brotam pepitas como o hit-single inspirado em Carole King “I Saw The Light”, o soft-rock de “It Takes Two To Tango (This Is For The Girls)”, e até uma tentativa de emular a Motown em “Wolfman Jack”.

Girado o acetato, surge a “intro”, deslocada. Uma voz comanda uma série de efeitos sonoros e desafia o ouvinte a identificar cada um deles a partir daí. Exercício lúdico nomeado de ‘Sounds of the Studio’. Brecha para a outra face do músico de cabelos coloridos, a do artista visionário que mesmo atento às possibilidades que os artefatos tecnológicos têm a lhe oferecer, não abre mão do humor espirituoso e, porque não, da própria individualidade. Destaque para “Song Of The Viking”, homenagem às operetas de Gilbert e Sullivan, estilo revisitado pelo Queen anos depois.

No disco dois, rocks às vias do hard dividem espaço com baladas classudas. Impossível não ceder aos encantos de “Dust In The Wind” (nada de Kansas aqui) e “Torch Song”, delicadeza que no final das contas faz toda a diferença. E ainda, o power pop de “Couldn't I Just Tell You”, como se o “Straight Up” do Badfinger, que ele acabara de produzir, conhecesse um filhote bastardo. Para finalizar, a cereja do bolo. O último lado do acetato reserva Todd ao comando de uma banda completa, que ao vivo em estúdio dá pinceladas finais em tom de celebração juvenil. A mesma aura dos velhos tempos. Não à toa a inclusão de “Hello It's Me” - emprestada do repertório do Nazz – e do medley cover “Money (That's What I Want)/Messin' With The Kid”.

Fim de papo e a sensação de que foi-se o tempo em que a dobradinha simplicidade/inteligência não era artigo de luxo no showbizz. Depois de “Something/Anything?” o mundo passou por muitas primaveras sem que Todd Rundgreen deixasse de se reinventar. Flertou com o rock progressivo, comprou briga com John Lennon, formou o Utopia, ganhou status de produtor requisitado, chegou a gravar um disco em que o único instrumento era a sua voz. Mas entre altos e baixos, a primazia do álbum das rosas ainda está para ser igualada.


Todd Rundgren - Something/Anything? (1972)

Side one:
"I Saw The Light" – 2:56
"It Wouldn't Have Made Any Difference" – 3:50
"Wolfman Jack" – 2:54
"Cold Morning Light" – 3:55
"It Takes Two to Tango (This Is for the Girls)" – 2:41
"Sweeter Memories" – 3:36

Side two:
"Intro" – 1:11
"Breathless" – 3:15
"The Night the Carousel Burned Down" – 4:29
"Saving Grace" – 4:12
"Marlene" – 3:54
"Song of the Viking" – 2:35
"I Went to the Mirror" – 4:05

Side three:
"Black Maria" – 5:20
"One More Day (No Word)" – 3:43
"Couldn't I Just Tell You?" – 3:34
"Torch Song" – 2:52
"Little Red Lights" – 4:53

Side four:
"Overture-My Roots: Money (That's What I Want)/Messin' With the Kid" (Bradford, Gordy, Rundgren, Strong) – 2:29
"Dust in the Wind" (Klingman, Rundgren) – 3:49
"Piss Aaron" – 3:26
"Hello It's Me" – 4:42
"Some Folks Is Even Whiter Than Me" – 3:56
"You Left Me Sore" – 3:13
"Slut" – 4:03

6 comentários:

Alexei Fausto disse...

mais um que vai entrevistar?

Anônimo disse...

O Todd é realmente muito bom, mas eu prefiro Nes Caw

Anônimo disse...

Artur, o blog agora é compartilhado. Atente-se que são dois autores diferentes para melhor satisfazê-lo

Alexei Fausto disse...

poxa, mas que viadagem...

e atente-se para o fato de meu nome estar escrito acima e ainda assim conseguiu errar na escrita...

Anônimo disse...

Desprezo as letras mudas :)

Anônimo disse...

Como anda a sua higiene mental?