domingo, 14 de outubro de 2007

Quer pagar quanto?



A impressão que tenho ao ouvir um disco do Radiohead é que estou em contato com a música do futuro, ou de um mundo paralelo. É como explorar o universo apocalíptico que a própria banda criou em 'OK Computer'. Um universo complexo e repleto de texturas que vai de uma alegria inocentemente infantil à profunda melancolia. Quando a banda lançou 'OK Computer', em 1997, a mensagem era de um fim catastrófico; em vez disso o que houve foi um grande (re)começo. 'Kid A', 'Amnesiac' e 'Hail to the thief' apontaram um caminho alternativo para a música. Mais do que indicar, o Radiohead explorou essas novas possibilidades criativas. Não que a utilização de elementos eletrônicos no rock fosse uma novidade, mas nunca essa fusão havia ocorrido de forma tão natural e com resultados tão originais. O que o Radiohead conseguiu foi criar uma linguagem musical que traduziu e representou os sentimentos de uma geração com muita informação e pouca formação. Na contramão dos que apenas exaltavam as maravilhas tecnológicas da modernidade, a banda lembrou da angústia que isso pode trazer e de que a solução, se é que ela existe, pode não estar nas 'facilidades' do mundo moderno. Cada geração teve seus representantes (de Led à Nirvana) e quem melhor representa o período pós-internet é o Radiohead.

'In Rainbows', parece continuar a história iniciada em 'Ok Computer'. Uma história que, espero, ainda está longe do fim. Em '15 steps' e 'Bodysnactchers', as duas músicas que abrem o CD (ou arquivo mp3), Phil Selway emula na bateria uma batida eletrônica empolgante que logo se reconhece como Radiohead. 'Nude', que pode ser considerada a 'balada' do disco, mistura a atomosfera de 'Exit music: for a film' e a melodia de 'How to disappear completly' pra criar uma canção que desde já entra pro hall de clássicos da banda. 'Weird fishes/Arpeggi' tem Phil Selway trabalhando mais uma vez com constantes mudanças de tom e de clima. Entra fácil na lista de preferidas. Em 'All I need', uma base de xilofones, um baixo grave, um teclado muito bem colocado e uma bateria e uma guitarra que resolvem gritar no final da música. Em 'Faust Arp' Thom Yorke parece ditar uma profecia com um violoncelo ao fundo, algo parecido com a música 'A Wolf at the door' que fecha 'Hail to the thief'. 'Reckoner' tem quebradas de ritmo com backing vocals e mais Phil Selway emulando batidas eletrônicas. 'House of cards' abre a seqüência final de 'In Rainbows' com Ed O'brien fazendo uma base contida na guitarra enquanto Thom Yorke canta com a voz e a melodia que fazem dele um dos vocalistas mais importantes da atualidade. 'Jigsaw falling into place' reúne na mesma música tudo o que o Radiohead tem de melhor: ritmo (e quebradas de ritmo), melodia e a criação de uma atmosfera única. A melhor faixa do CD. O encerramento fica por conta de 'Videotape' com apenas um teclado e Thom Yorke. Mais instrumetal e menos eletrônico, embora a sonoridade continue moderna, o Radiohead mantém o nível de sua discografia praticamente irretocável e se consolida como a banda mais importante da atualidade.

A espera de 4 anos pelo novo disco acabou com o anúncio da banda, em seu site oficial, de que o trabalho estava finalizado e de que ele seria disponibilizado para download no próprio site oficial. O preço? O valor que você quiser pagar (!). Basta cadastrar o email no site para receber o link de acesso. Sem gravadoras sanguessugas pra intermediar o processo. A modernidade também traz coisas boas, afinal.

www.radiohead.com


Pedro Grossi

2 comentários:

Anônimo disse...

Pitacos:

"Não que a utilização de elementos eletrônicos no rock fosse uma novidade, mas nunca essa fusão havia ocorrido de forma tão natural e com resultados tão originais."

No mínimo polêmico. Pra citar um, o Kraftwerk fez exatamente o mesmo, com temática bem parecida, ainda em 74, com o "Autobahn".

"...o Radiohead mantém o nível de sua discografia praticamente irretocável e se consolida como a banda mais importante da atualidade."

Delay de sete anos.

Unknown disse...

Só isso?? Você costumava ser mais impertinente